Rui Barbosa e a injustiça

Outra boa passagem do letrado Rui Barbosa, desta feita, registrada oficialmente nos anais do Senado brasileiro, por ocasião de um de seus discursos naquela Casa. É de impressionar como o conteúdo de sua fala reverbera até os nossos dias com a mais absoluta modernidade e adequação à nossa triste realidade sócio-cultural.

É uma verdadeira crítica àquela velha tônica de que as pessoas precisam sempre se dar bem em tudo, ainda que, de forma desonesta e desonrosa. A famosa “lei de Gerson” já existia naquele tempo, só que com outros nomes.

O discurso chama a atenção para o cada vez mais presente exemplo em que, algumas pessoas, chegam a se envergonhar de terem agido de forma a ser classificada, pelo senso comum, como “honesta”. É como o caso de pessoa simples que devolve carteira recheada de dinheiro. Pela notória inversão de valores a que estamos todos submetidos, tal ato, ao invés de ser aplaudido, pode até ser criticado por iguais que, indignados com a tamanha “burrice” e desaforo de alguém devolver dinheiro achado, quando dele tanto se precisa.

Rui Barbosa já tinha visto isso…

HSF

 

“O Sr. Rui Barbosa – A falta de justiça, Senhores Senadores, é o grande mal de nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta nação.

A sua grande vergonha diante do estrangeiro é aquilo que nos afasta dos homens, os auxílios, os capitais.

A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêem nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agitarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto…..”

Falando difícil

Rui_Babosa_atireiopaunogatoEsta eu recebi de uma grande amiga, Jane Moura, exímia conhecedora do português e também do bom e velho inglês, ao se referir aos conhecidos exageros de linguagem, vistos com certa regularidade, em alguns textos.

HSF

Conta a história que o grande jurista Rui Barbosa, num certo dia, ouviu barulho estranho no quintal de sua casa e foi verificar o que era. Deparou-se com um homem muito mal vestido que estava roubando aves. Rui Barbosa reverberou:

– Oh, bucéfalo anácroto! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos  bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito de minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes  isso por necessidade, transijo, mas se é para zombares de minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima  potência do que o vulgo denomina nada.

 O  ladrão perguntou:

– Dotô, eu levo ou deixo os patos?”

Eu corro, e você?

O Portal UOL possui uma seção chamada OxigênioTV muito interessante para aqueles que gostam de praticar atividades aeróbicas e melhor ainda para aqueles que ainda possuem vida sedentária. Para os primeiros, os clipes (pequenos videos) trazem informações úteis para o dia-a-dia de quem sua a camisa. Já para o segundo grupo, as matérias costumam dar um incentivo a mais para se largar o controle remoto, tirar os fartos glúteos da poltrona e “emburacar”, como diz um amigo meu, quando quer se referir à “enfrentar a vida” ou “encarar desafios”. Vale a pena uma visita!

HSF

“Contradição” é da vida

Gato_e_rato_Amigos_AtireiopaunogatoFalar de princípios e valores é mexer em vespeiro. Mas, para começar o ano sem fugir à regra de escrever sem amarras, vale a pena correr mais este risco.

É muito comum, quando conveniente, alguém sacar da manga a questão da coerência. Não raro, você acaba ouvindo: “…mas, você não está sendo coerente?!…”. E a pessoa, normalmente, tem razão mesmo! Provavelmente você não esteja mesmo sendo coerente. Mas, e daí!? Qual o problema? Quem disse que as pessoas precisam ser coerentes? Sou até capaz de afirmar que a coerência plena e absoluta não existe, pois não passa de utopia criada na cabeça daqueles que fingem (…uns fingem até muito bem…rs…) que isso é possível.

O exemplo dos políticos é emblemático! Todo mundo cobra coerência dos políticos, mas muitas vezes, ser coerente é simplesmente impossível. IMPOSSÍVEL! Se o cara tentar ser coerente, em algumas situações, estaria sepultando todos os seus projetos políticos futuros. Exemplo: faz-se um acordo de apoio político a uma determinada pessoa e contra um determinado grupo político. Só que 1 ano após o acordo feito, o tal “apoiado” começa a fazer uma merda atrás da outra. Além disso, aquele grupo que se apresentava como hostil, no passado próximo, hoje, começa a mudar a tônica da relação, estendendo a mão para o estreitamento de projetos comuns, etc…. Eu não tenho a menor dúvida de que o acordo outrora firmado foi para o vinagre. Alguém teria alguma dúvida disso!? Aí, mesmo assim, um oportunista qualquer vem cobrar coerência!? Chega a ser engraçado. É de se perguntar: será que quem critica, no lugar do político ou da pessoa em questão, manteria o acordo feito no passado e apoiaria um boçal que só fez queimar o filme em suas últimas aparições públicas?? Claro que não…..

O Poeta dizia: “….prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”. A frase, para meu perfil, soa como exagerada. Mas tem sentido, não posso negar. Não há como ser coerente, quando as circunstâncias mudam. Não há! E as circunstâncias só fazem é mudar o tempo todo.

Outra prática comum é o uso de rótulos. “Fulano é honesto! Beltrano é competente”. Não cola. Isso porque as pessoas se apresentam sob várias nuances. O perfil de cada um não é preto ou branco e, sim, “multitonal” entre o branco e o preto. Isso mutila a famigerada coerência, não é mesmo!?

Uma vez um cliente falou pra mim: “...fique tranqüilo, pois eu sou honesto...”. Fui até mal interpretado quando perguntei a ele: “…como a assim honesto?...”. Ora, perguntei aquilo sem nenhuma ironia, por incrível que pareça. Por quê? Por que o sujeito é humano como todos nós e, por conseguinte, tem falhas que podem fragilizar aquela afirmação. Senão eu pergunto: seria possível acreditar que alguém que trai a esposa com uma amante, mas paga todos os seus impostos em dia seria uma pessoa honesta? Seria possível levar a sério um eleitor que chama político de corrupto, mas quando vai votar quer antes saber se o emprego do parente já está garantido? E quanto ao empresário que sonega, seria ele menos criminoso do que aquele político safado que desviou verba da merenda das crianças? O fato é que se não houver uma enfática delimitação do tema, a coerência não pode ser aplicada ou cobrada.

Por estas convicções que tenho, às vezes, sou flagrado rindo sozinho, ao ouvir a declaração de alguém que se diga “baluarte da honestidade” ou “baluarte” de qualquer outra virtude, por exemplo….Um cara desse deve ser tratado com o mesmo cuidado que se deve ter quanto as reais condições de fabricação da lingüiça, ou seja, é melhor você nem conhecer a fundo, pois vai se decepcionar….rs….

Não pretendo manter coerência absoluta quanto às minhas impressões sobre este polêmico tema, pois posso ser convencido do contrário, é claro. Mas, por enquanto, só um idiota conseguiria manter a coerência durante todo o tempo, ainda que as circusntâncias originais tenham se modificado. Mas, isso facilita muito as coisas. Porque se um dia alguém me falar: “...mas, agora, você não está sendo coerente!...”. Eu só devo me limitar  a responder: “Você tá me chamando de idiota?!”.

HSF