Parem com isso! Por Eliane Cantanhêde

Assim como a violência está endurecendo os corações brasileiros, o câncer do ex-presidente Lula reacende um radicalismo insano, agressivo e burro, como, aliás, todo radicalismo.

Cansados da violência urbana, das balas perdidas, da corrupção policial, os brasileiros estão cada vez mais a favor da pena de morte, da prisão perpétua e da redução da maioridade penal. É incrível, mas 87% (pesquisa CNI-Ibope) são a favor de botar a meninada (negra e pobre, claro) de 16 anos nas cadeias, para tentar compensar crimes hediondos de um ou outro.

Agora, o anúncio de que Lula tem câncer de laringe reavivou num estalar de dedos as reações insanas do final do seu governo e sobretudo da campanha eleitoral de 2010 que deu vitória a Dilma. Novamente, essas reações são principalmente pela internet, uma espécie de selva sem lei em que, entre outras coisas, covardes se escondem atrás do anonimato para passarem por leões e onças ameaçadores.

De um lado, o exército lulista querendo santificar Lula, como se ele não tivesse cometido erros, como se críticas não fossem legítimas e saudáveis e como se 80% de popularidade não bastassem.

De outro, as milícias anti-lulistas enlouqueceram de vez, perderam a decência, a humanidade, a civilidade. Confesso que parei de ler já no início, porque boa coisa não ia dar. Como não deu. A maioria é lixo.

Lula não é santo nem demônio. Tem uma biografia pujante, carisma, inteligência, o dom da comunicação. Seu governo teve méritos e erros. Não adianta querer esconder nem que o Brasil incluiu milhões de pessoas e ele se tornou um líder de envergadura internacional, nem que ele demonstrou excesso de vaidade e vestiu uma armadura para proteger corruptos conhecidos – muitos investigados pela própria Polícia Federal que ele chefiava.

Mas o que importa, neste momento, é o homem Lula, que teve uma notícia assustadora, passa por um tratamento altamente doloroso e está numa fase de incertezas e, evidentemente, de medos.

Política é política, pessoas são pessoas. Não se pode contaminar com a política uma questão pessoal, de saúde, que exige respeito e solidariedade, no mínimo silêncio. Nem para aproveitar o câncer para reforçar o mito, nem para descarregar discordâncias e idiossincrasias.

A Lula, voto de melhoras e de muitos e muitos anos de vida.

Eliane CantanhêdeEliane Cantanhêde é colunista da Folha desde 1997 e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

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O câncer de Lula me envergonhou – Por Gilberto Dimenstein

Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo.

Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?

Lula teve muitos problemas –e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social.

No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia.

Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.

Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência.

Gilberto DimensteinGilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania
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O “drama” da classe média brasileira…

Até pouco tempo atrás, a classe média alta do Brasil se “lambuzava” com uma situação que, embora haja divergência, nada me tira da cabeça que tinha algo de surreal (ilusório): dólar a R$ 1,59.

Os números provavam que a festa era grande com este dólar tão baixo. Viagens, compras no exterior, cartões de crédito internacionais, compras em sites internacionais, etc, etc, etc… A coisa começou a tomar proporções tão relevantes que o governo brasileiro, preocupado em coibir tais ações, chegou a criar (acho que em vão!) até uma “forma” de inibir compras no exterior, majorando o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre estas compras feitas por cartão, para 6%. Não fez nem cosquinha, porque  a “farra” continuou….rs

Agora, neste setembro de 2011, crises e instabilidades no mundo devolvem ao todo poderoso dólar, parte daquilo que havia perdido, tendo a moeda quase atingido o patamar de R$ 2,00. Bom para as exportações? É… talvez! Mas, péssimo para aquelas comprinhas no exterior, principalmente em Miami, tão planejadas durante todo ano.

Não sei se este aumento será duradouro (…já caiu de novo um pouquinho….) ou se virão novas políticas econômicas que venham a estabilizar a relação Real (R$) x Dólar (US$), mas fico aqui pensando no “drama” daqueles que, nos últimos anos, haviam esquecido as compras no Brasil. As pessoas diziam: “…por que comprar aqui, se nos EUA compra-se marca famosa, com qualidade e muito mais barato?”. Depois de ouvir isso muitas vezes, devo admitir que acabei reconhecendo que tal frase carrega uma certa lógica, embora me pareça prejudicial ao país.

O tempo dirá se teremos alguma mudança na atitude e no comportamento de alguns brasileiros por conta desta nova aparente realidade econômica. Como bom patriota, a minha torcida será sempre pela preservação e recuperação da indústria e do comércio interno do país, fortalecendo a nossa balança comercial, aumentando postos de trabalho e passando para o Mundo a imagem de um Brasil desenvolvido e respeitado pelas suas políticas públicas que associem um capitalismo moderno sem molestar as garantias e direitos fundamentais do cidadão (lindo!).

Agora, como a gente sempre quer “omelete sem quebrar os ovos”, confesso que acharia muito melhor se fosse possível a busca de uma uma solução para termos todos estes avanços, sem prejuízo daquela boa e velha comprinha internacional. Eita vício difícil de se largar!…..

HSF