O Dominó da Dilma

O que temos visto sobre as quedas dos Ministros de Estado, no Governo Dilma Roussef, mais parece um daqueles melancólicos espetáculos “artísticos” em que basta um dominó ser derrubado, para que este inicie uma transformação em série, derrubando todos os dominós a seu lado e, como consequência, formando uma nova imagem, um novo cenário.

Começou com o Antonio Palocci (Casa Civil), depois passou por Luiz Sérgio (Relações Institucionais), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte), Carlos Lupi (Trabalho) e, agora, quem parece estar no fio da navalha, curtindo o mantra “seu gato subiu no telhado” é o Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Este último, na bica de cair…

Salvo engano, com exceção do Ministro Nelson Jobim (…que “morreu” pela boca: falou demais!…), todos os demais que caíram ou que perigam cair, estavam, direta ou indiretamente, envolvidos em situações inadequadas para as suas condições de Ministro de Estado. Desde envolvimento com denúncias de corrupção, enriquecimento ilícito, tráfego de influência, malversação do erário, lavagem de dinheiro e muito mais…

Nestas horas, deveria valer mais do que tudo o velho adágio que lembra à mulher de “César” que a ela, pela posição ocupa, não basta ser honesta, cabendo à mesma também parecer honesta. Será então que os Ministros que caíram eram tão somente servidores públicos descuidados (ainda que no seu passado próximo)? Será que foram perseguidos por interessados em suas quedas ou pela “perversa” mídia? Não sei, mas me parece pouco provável que denúncias absolutamente vazias pudessem resultar em quedas de Ministros. É natural que algo, de concreto, tenha existido…

É bem verdade que a imprensa, com seu indiscutível e desmedido poder, poderia, sim,  “facilitar” as coisas, para que um Ministro caísse. Claro que sim! Neste aspecto, lembro-me muito bem de uma fala do então Senador Artur da Távola em depoimento no excelente filme “Ninguém sabe o duro que dei“, que tratou da ascensão e queda do incontestavelmente talentoso Wilson Simonal  (para ouvir, clique no player ao final do post). O Senador dizia que a imprensa brasileira, não diferente da mundial, deveria tomar muito cuidado, pois estava se tornando mais comum do que o desejável, a mídia tomar o sintoma como um indício, o indício como fato, o fato como um julgamento, o julgamento como condenação e a condenação era, imediatamente, transformada em linchamento público. De fato, perigoso, muito perigoso para a nossa democracia e para a nossa segurança jurídica.

Ocorre que, assim como o Simonal da década de 60, também no caso dos Ministros que caíram, isso não ocorreu pela simples e gratuita suposta execração da imprensa. Parece claro que todos eles deram algum motivo…! No mínimo, vacilaram. E, num meio em que o seu status é sempre desejado e disputado por muitos, o mais despretensioso “vacilo” pode lhe custar a pele.

Mas, as quedas destes Ministros não me parecem, de todo, acontecimentos negativos. É natural que demonstrem certa fragilidade do Governo por ter estado com gente em sua equipe susceptível a ser retirado à forceps de seus cargos, em função da descoberta de suas condutas não muito ortodoxas. Mas, por outro lado, o fato de estarem sendo sacados, tão logo se vejam diante de situações inexplicáveis ou de convencimento embotado, demonstra que a governabilidade de Dilma ainda resiste.

Convenhamos, o staff de primeiro escalão do governo federal é de quase quarenta cabeças, representando interesses de 7 grandes partidos (PT, PMDB, PSB, PP, PCdoB, PR e PDT), além de atender ao pedido de um sem número de padrinhos políticos que desejam ter um “pé” em cada Ministério. De fato, é muito difícil governar assim.

Talvez um novo e almejado cenário criado pela queda das peças do dominó, bem que poderia ser o da fusão de ministérios, no lugar de se fazer a simples substituição de uma peça pela outra, mantendo o “status quo ante“. Vejo como uma ótima oportunidade de acerto para Governo Federal, ao redimensionar sua estrutura, com vistas ao enxugamento da máquina governamental e redução dos gastos públicos. Agenda positiva! Bem melhor do que trocar “seis por meia dúzia”, não é não!?…

HSF

Casagrande ganhou perdendo? (Joca Simonetti)

O ex-governador Paulo Hartung deu fama às expressões “ganhar perdendo” e “perder ganhando” nas análises do cenário político do Espírito Santo. A primeira parece ter sido talhada para ilustrar a situação do deputado Luciano Rezende após a derrota na eleição para prefeito de Vitória, em 2008, quando foi traído pelo esdruxulo apoio do então vice-governador Ricardo Ferraço ao seu adversário, João Coser. À época, Ricardo estava no PSDB, partido da coligação que apoiava Luciano.

Acontece que Luciano, após o pleito, foi ser secretário estadual de esportes, vitrine para catapultar sua candidatura a deputado. Curioso é que, sendo secretário, Luciano tornou-se subordinado do mesmo Ricardo Ferraço que contribuíra para sua derrota.

A frase do ex-governador é de 2008, mas “ganhar perdendo” também pode ilustrar a situação de outro candidato derrotado na eleição para prefeito de Vitória. Quando César Colnago perdeu a eleição em 2004, após ser desidratado no período pré-eleitoral pelo grupo do então governador Paulo Hartung que desejava impor uma chapa de consenso, tornou-se presidente da Assembleia em 2005.

E quem “perdeu ganhando”? Em 2008, parece ter sido mesmo João Coser, que saiu da eleição menor do que entrou, e ficou amarrado ao apoio de Paulo Hartung para tocar o segundo mandato – que aliás está terminando ainda mais medíocre que o primeiro, mas isso é outra história.

No cenário político atual, quem parece ter perdido ganhando é o governador Renato Casagrande.

No início de 2010, Renato Casagrande venceria a eleição para o governo sem o apoio de Paulo Hartung. Essa era minha opinião na época e segue sendo hoje. Naquele momento, Ricardo Ferraço que, mesmo com o empurrão da máquina do governo patinava sem conseguir estabelecer uma vantagem decisiva, precisava vencer no primeiro turno, porque não teria o apoio de nenhum outro candidato no segundo. Casagrande estava crescendo nas intenções de voto capitaneando um coro de descontentes, excluídos da “unanimidade bonapartista” que o governador construíra em torno de si, e estava nos calcanhares de Ricardo. Luiz Paulo e Brice completavam o quadro, com potencial não para vencer a eleição, mas para provocar o segundo turno.

Mas veio o “abril sangrento” e Paulo Hartung deixou Ferraço com o prêmio de consolação da votação recorde para o senado, e recompôs a unanimidade em torno do nome de Renato Casagrande e tendo o próprio Paulo Hartung como centro gravitacional de poder.

E foi assim que o governador Casagrande “ganhou perdendo”, e começou um mandato fraco, sem condições de impôr sua agenda e refém de forças políticas controladas poer seu antecessor: estão aí as dificuldades na relação com a Assembleia para todo mundo ver.O ano de 2012 será, na minha opinião, a hora da verdade para o PSB – mas essa história fica para quarta-feira

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Napoleão de hospício, dez anos depois…

As eleições de 2002 realmente foram muito especiais para mim. Foi nesta época que pude vivenciar uma das mais ricas, intrigantes e inusitadas experiências de minha vida. Eu me vi candidato numa eleição majoritária (governo do estado), terminantemente, polarizada entre dois fortíssimos candidatos (Paulo Hartung e Max Mauro), além de outros cinco, popularmente conhecidos como “japoneses”, por apresentarem prognósticos de potencial eleitoral igualmente baixos (…eu era um deles…rs).

A nossa democracia, embora já tenha passado pela puberdade, ainda permite à grande maioria esquecer de seus candidatos ou mesmo de suas “promessas” passados 6 meses do pleito, às vezes, até menos. Muitas vezes essa amnésia antidemocrática ocorre também comigo, em que pese o meu grande interesse pela política. Mas, 2002 foi diferente!

Lembro de tudo pelo qual passei naquelas “andanças” em busca de voto, ou melhor, em busca da manutenção da minha imagem, como alguém que deveria ter o direito de viabilizar uma candidatura “inglória”, mas legítima.

Muita coisa aconteceu nestes 10 anos. Consolidei convicções, mudei outras. Fiquei mais paciente para algumas coisas e muito mais impaciente para outras. Perdi alguns amigos e ganhei outros. Claro, que me arrependi de algumas ações, mas me orgulhei de outras. Estes 10 anos foram tempo suficiente para termos a certeza de nossa falibilidade, para conhecermos nossas qualidades e aprendermos a conviver com nossos defeitos.

Voltando ao pleito de 2002, penso que talvez, hoje, eu não aceitasse outro encargo tão pesado. Mas, se eu assim o fizesse, o que certamente não mudaria seria a exigência de tentar levar adiante a candidatura, pedindo voto como de fato foi feito. Afinal, era este o acordo feito com o presidente do PFL, José Carlos da Fonseca Junior (“Zé Carlinhos”): uma candidatura institucional, mas que eu poderia pedir votos. Ora, se pela conjuntura de coligação partidária, nosso candidato do governo era Paulo Hartung, nada mais natural do que enfrentar esta “pedreira”, em nome de um projeto político, tido como maior e melhor para nosso Estado.

O plano, porém, não deu certo! Com pouco mais de uma semana de programa de TV, vem uma “ordem” para que eu saísse do ar, porque, “segundo pesquisas”, eu não estava tirando votos de Max mas, sim, de Paulo e o que para eles era pior, crescendo sem parar. Foi quando saiu o diálogo e entrou a truculência. Sob sério risco de um segundo turno, eu precisava ser calado, não interessava o custo. Pelo visto, não importava nem mesmo se o preço fosse a própria candidatura a Deputado Federal de “Zé Carlinhos”,  como de fato, pareceu ter sido.

Mas, eu simplesmente não concordei com a ruptura unilateral, SEM DIÁLOGOS, de um acordo feito, de um contrato. Para o ex-governador Paulo Hartung, talvez eu tenha sido um traidor, pois mantive a todo custo a minha candidatura, ainda que usando de medidas judiciais de urgência que nos mantiveram vivos. É engraçado quando se está sob o outro ângulo de um mesmo acontecimento. Nesta outra ótica, é evidente que o traído fui eu. Como diria Machado de Assis, o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão…

Não assumi os riscos de levar adiante o que iniciei pelo fato de acreditar que ganharia. Claro e evidente que não! Mas, sempre acreditei que conseguiria levar adiante a missão para a qual fui “convocado”. E, embora quem a tivesse “convocado” já não estivesse mais fazendo questão que eu a cumprisse, não mais importava. A missão já havia ganho vida própria. Bastava um sujeito teimoso para levá-la adiante. Na verdade, bastou o “napoleão de hospício”.

É….isso tudo eu faria de novo!

HSF

PS: Abaixo faço o resgate do excelente artigo do amigo André Hees (A GAZETA), com a hilária ilustração do também competente e amigo, Amarildo.

 

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‘Napoleão de hospício’?

A Executiva Regional do PFL pretende implodir a candidatura de Haroldo Santos Filho ao Governo do Estado. Já há algum tempo o candidato está em rota de colisão com o presidente do partido, o deputado José Carlos da Fonseca Júnior. E com a renúncia do vice de Haroldo, Rogério Figueiredo, a chapa pode se tornar nula. Ontem, o vice reiterou, no Tribunal Regional Eleitoral, o pedido de desistência, com os dados complementares exigidos pelo relator da matéria. No pano de fundo dessa questão está a tentativa de garantir o segundo turno na disputa pelo Palácio Anchieta.

Profissionais que atuam no âmbito do TRE asseguram que há risco concreto de Haroldo ter a sua candidatura anulada. Pela legislação eleitoral, somente o partido pode indicar o vice. E o PFL deixa claro que não pretende indicar um substituto para Rogério Figueiredo, que renunciou argumentando discordar dos rumos tomados pelo titular da chapa.

Haroldo e Fonseca se desentenderam por causa do uso do horário eleitoral na TV e pela forma de conduzir a campanha. Para Fonseca, que apóia o senador Paulo Hartung (PSB), Haroldo deveria cumprir mais o papel institucional, levantando a bandeira do partido para futuros pleitos. Depois do rompimento, o candidato alinhou-se à ala do PFL ligada à Presidência da Assembléia Legislativa, que está no campo oposto ao do presidente do PFL.

Fonseca Júnior acha que a possibilidade de Haroldo levar a disputa para o segundo turno é coisa de “Napoleão de hospício”. “É capaz de ele ter menos votos que Sônia Santos (PCO)”, diz o deputado. Mas pode não ser tão simples.

A última pesquisa do Ibope mostrava que, há uma semana, a diferença entre Hartung e os demais candidatos juntos era de 10 pontos. Haroldo, depois de um tempo fora da TV devido aos conflitos partidários, estava com 1%. Estimam os seus colaboradores, porém, que ele pode chegar a 5% ou 6%.

Considerando a margem de erro e uma possível variação nas intenções de voto de Hartung e do deputado Max Mauro (PTB), a presença de um candidato a mais, mesmo que na lanterna, pode fazer a diferença. Se é tolice ou não, o fato é que há aliados de Hartung preocupados com a possibilidade de um segundo turno.

Avaliam esses aliados que lideranças ligadas à Assembléia e ao Palácio Anchieta perderam força no processo eleitoral ao ficar sem palanque. Num eventual segundo turno, com os novos deputados estaduais eleitos, os que hoje estão enfraquecidos podem voltar ao primeiro plano na articulação política estadual.

Para outros, como o próprio Haroldo, um segundo turno garantiria uma disputa “mais democrática”. Ele diz que recorrerá à Justiça para manter a sua candidatura, se necessário. Mas ironicamente, o segundo turno interessa hoje a uma parte da oposição e também à situação.

André Hees – Coluna Praça Oito – Jornal A Gazeta – 27 de setembro de 2002″

Lula, o câncer, o SUS e o Sírio – Por Elio Gaspari

AS PESSOAS que estão reclamando porque Lula não foi tratar seu câncer no SUS dividem-se em dois grupos: um foi atrás da piada fácil, e ruim; o outro, movido a ódio, quer que ele se ferre.

Na rede pública de saúde, em 1971, Lula perdeu a primeira mulher e um filho. Em 1998, o metalúrgico tornou-se candidato à Presidência da República e pegou pesado: “Eu não sei se o Fernando Henrique ou algum governador confiaria na saúde pública para se tratar”. Nessa época acusava o governo de desossar o SUS, estimulando a migração para os planos privados. Quando Lula chegou ao Planalto, havia 31,2 milhões de brasileiros no mercado de planos particulares. Ao deixá-lo, essa clientela era de 45,6 milhões, e ele não tocava mais no assunto.

Em 2010, Lula inaugurou uma Unidade de Pronto Atendimento do SUS no Recife dizendo que “ela está tão bem localizada, tão bem estruturada, que dá até vontade de ficar doente para ser atendido”. Horas depois, teve uma crise de hipertensão e internou-se num hospital privado.

Lula percorreu todo o arco da malversação do debate da saúde pública. Foi de vítima a denunciante, passou da denúncia à marquetagem oficialista e acabou aninhado no Sírio-Libanês, um dos melhores e mais caros hospitais do país. Melhor para ele. (No andar do SUS, uma pessoa que teve dor de ouvido e sentiu algo esquisito na garganta leva uns 30 dias para ser examinada corretamente, outros 76, na média, para começar um tratamento quimioterápico, 113 dias se precisar de radioterapia. No andar de Lula, é possível chegar-se ao diagnóstico numa sexta e à químio, na segunda. A conta fica em algo como R$ 50 mil.)

Lula, Dilma Rousseff e José Alencar trataram seus tumores no Sírio. Lá, Dilma recebeu uma droga que não era oferecida à patuleia do SUS. Deve-se a ela a inclusão do rituximab na lista de medicamentos da saúde pública.

Os companheiros descobriram as virtudes da medicina privada, mas, em nove anos de poder, pouco fizeram pelos pacientes da rede pública. Melhoraram o acesso aos diagnósticos, mas os tratamentos continuam arruinados. Fora isso, alteraram o nome do Instituto Nacional do Câncer, acrescentando-lhe uma homenagem a José Alencar, que lá nunca pôs os pés. Depois de oito anos: 1 em cada 5 pacientes de câncer dos planos de saúde era mandado para a rede pública. Já o tucanato, tendo criado em São Paulo um centro de excelência, o Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, por pouco não entregou 25% dos seus leitos à privataria. (A iniciativa, do governador Geraldo Alckmin, foi derrubada pelo Judiciário paulista.)

A luta de José Alencar contra “o insidioso mal” serviu para retirar o estigma da doença. Se o câncer de Lula servir para responsabilizar burocratas que compram mamógrafos e não os desencaixotam (as comissões vêm por fora) e médicos que não comparecem ao local de trabalho, as filas do SUS poderão diminuir. Poderá servir também para acabar com a política de duplas portas, pelas quais os clientes de planos privados têm atendimento expedito nos hospitais públicos.

Lula soube cuidar de si. Delirou ao tratar da saúde dos outros quando, em 2006, disse que “o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde”. Está precisamente a 33 quilômetros, a distância entre seu apartamento de São Bernardo e o Sírio.

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