Marque na sua agenda: 16 de agosto de 2009, a partir das 08:00 h, saindo da praia de camburi. Estamos falando da que, talvez, seja a prova de corrida de rua mais famosa e mais concorrida do circuito capixaba. A corrida “dez milhas Garoto”, de fato, tem sido sinônimo de um percurso agradável, emocionante e de visual inesquecível, principalmente, quando se atravessa a Terceira Ponte (que une as cidades de Vitória e Vilha Velha), tendo à direita o imponente cartão postal do “Convento da Penha”.
Pela tradição construída ao longo das edições anteriores, pode-se afirmar categoricamente se tratar de uma prova imperdível e que promete 16 quilômetros de muita festa e alegria. A alegria é por conta de cruzar a linha de chegada, como bem me lembro da última que participei. Quanto a festa… bom, a festa você descobrirá pessoalmente se comparecer ao evento. A gente se encontra por lá!…
Tem dia que a gente acorda doido pra correr. Ontem foi assim. Programei até a minha saída mais cedo da empresa, para dar tempo de mudar de roupa e iniciar a corrida ainda no anoitecer.
Mas, quando eu não pensava mais em outra coisa e já estava arrumando minha mesa para zarpar do trabalho, minha secretaria anuncia a chegada na recepção de dois jovens que queriam “abrir uma empresa”. Putz…fazer o quê? Mandei entrar.
Minha sala ficou pequena com o inesperado surgimento de dois falantes e alvoroçados garotos que mais lembravam o Kenan & Kel daquele seriado americano. Começaram logo explicando que apesar de estarem “completamente duros”, queriam montar um restaurante temático em Vitória e que a coisa ia dar tão certo que eles iriam enriquecer bem antes dos trinta anos. Enquanto eu olhava pro relógio e via a minha corrida indo pras picas, os caras falavam sem parar “entre eles”, discutindo cada detalhe da empresa. O papo deles tava tão bom que eu não podia nem pensar em interromper. Eu estava ali, quase que como um Roberto Justus diante de dois candidatos disputando pra ver quem impressionava mais. Aquilo não podia ser real, tinha cara de pegadinha. Cheguei a pensar que pudesse ser sacanagem de algum amigo meu…
Só tem que o sujeito quando passa dos quarenta anos, como eu, por mais profissional que seja, normalmente, fica mais seletivo e se permite presentear com a escolha exata daquilo que realmente quer. Valendo-me disso, interrompi na marra os empreendedores, bem na hora em que a “viagem na maionese” deles já tratava dos futuros planos de venda da franquia, do bem sucedido restaurante temático, para o resto do mundo.
Disse que estava muito atrasado pra outro compromisso, mas que a idéia do negócio me parecia muito confusa e sem fundamento técnico de viabilidade. Dito isso, encurtei o encontro apresentando logo o meu orçamento pelos serviços necessários à elaboração de um plano de negócios decente e, depois, para a abertura da empresa. Eles devem ter achado caro, pois logo levantaram e saíram dizendo que iriam “pensar” na proposta… Ufa!…deu certo.
Aquele blá-blá-blá todo me tirou do sério! Acabei prejulgando e desacreditando completamente o projeto daquela turma. Minha consciência chegou a pesar logo depois que eles saíram mas, paciência…. fui correr.
Lá pelas tantas, no meio da corrida, lembrei do caso e meu diálogo interno do bem, foi logo amenizando: você agiu bem, a corrida está ótima! Os caras eram enrolados mesmo e você nunca mais vai ouvir falar neles…
Desencanei de novo mas, não demorou muito para o meu diálogo interno do mal entrar na conversa: só que o pior vai ser, no futuro, eles serem reconhecidos na capa da revista exame, sob o título “contra todos os prognósticos – capixabas desbravam o mundo com franquia milionária”. Se me conheço bem, vou ficar muito puto se isso acontecer…Foi o bastante pra estragar minha corrida.
Acordei neste domingão, a fim de dar aquela corridinha leve para ver se antecipo a disposição de iniciar a semana. A escolha do circuito, aqui em Vitória, é muito fácil. Sou suspeito para opinar mas, Vitória (ES) é de fato uma linda cidade que, além de qualidade de vida a todos, oferece ótimos percursos para quem quer caminhar ou correr.
Tem a praia de camburi que, dependendo do “vai-e-vem” adotado, lhe fornece um belo calçadão, com um trajeto total de 15 ou mesmo 20 Km. Outro circuito interessante que consegue dar uns 6 Km no total é o da praça dos namorados, no bairro praia do canto. Foi este que escolhi hoje.
Estacionei o carro no Iate Clube do Espírito Santo (ICES), alonguei no início da praça, liguei minha programação musical e caí no mundo. Corri até o bairro enseada do suá (perto da praça do Papa) e depois voltei. Ao chegar, como de costume, de volta ao ponto de saída, alonguei exageradamente (…aconselhável procedimento para velhos, como eu…rs), depois voltei uns 100 metros para tomar aquela água de coco gelada, na barraquinha do “Zé”, logo no início da praça. Tudo de bom!…
Correr é algo especial! Só pode entender do que estou falando, aquele que conseguiu ultrapassar a zona de desconforto inicial de uma corrida (para quem não está habituado) que, normalmente, fica entre 30 e 40 minutos, de FC média girando em torno de 60% de sua FC máxima. Quem nunca passou dos 40 minutos correndo, ainda não experimentou o “tesão” que é a sensação provocada pelas substâncias que o corpo produz e lança na sua corrente sanguínea. Um verdadeiro espetáculo. É uma química que mexe com você, de verdade. Você termina uma corrida dessa de “alma lavada”, com a consciência do dever cumprido, de bem com a vida e se achando o “cara”.
Hoje, em especial, o dia estava lindo, cheio de Sol e pouca nuvem. E uma distração a mais para o corredor neste circuito, são as praias lotadas, principalmente a da “curva da jurema”. Muita mulher bonita e pouca roupa para facilitar a “avaliação técnica” que dá pra se fazer, enquanto corremos. Noto até que, nestes trechos mais “abundantes”, a gente tem a nítica sensação de que nem está mais tão cansando assim. Estufa o peito, murcha a barriga, levanta a cabeça e acelera o passo, procurando reproduzir aquela super descansada cara feita pelo fenomenal Usain Bolt quando quebrou, com folga, o recorde mundial dos 100 metros rasos.
Quando chego em casa, como sempre, repasso no computador o sistema Polar que me dá o mapa de frequencia cardíaca durante todo o trajeto. Observo algo muito curioso. Mantenho a receita de marcha correta até um determinado trecho. De repende, o coração bate mais forte e o planejamento de segurança feito para o treino vai por água abaixo. Chego fácil na beira de minha frequencia máxima mas, depois de um tempo, tudo volta ao normal, até a chegada. Para não haver dúvida no futuro, anoto sempre nas observações daquele treino que aquela anomalia temporária em meu ritmo cardíaco é o fenômeno “curva da jurema”, que nada mais é do que uma tímida influência da festejada testosterona que ainda me resta e que dá o ar da graça, para a alegria da “galera”.
Folheava a nossa querida “A Gazeta” à procura de um bom filme de cinema para ir com a madame neste final de semana e vi a notícia de que o time do Vasco da Gama faria uma pré-temporada de treinamentos aqui no Espírito Santo e que o “timão” chegaria hoje em nosso aeroporto internacional de Goiabeiras. Pô, a notícia falava exatamente do meu time. Pois é…foi assim que caí de verdade na real! O meu Vascão está na segundona. Puta…..segunda divisão é de doer…Lembro-me logo quando vi a recente e melancólica queda do Corinthians em 2006, e como havia ficado impressionado com aquele montão de torcedor paulista, chorando feito criança, desconsoladamente, ao fim do jogo que marcou aquela dramática queda. Pensei logo: “…ainda bem que não é com o Vasco”. Deus me livre… que sofrimento!…
E então aconteceu! Agora é com o Vasco mesmo. Vai fazer uma pré-temporada em Vila Velha para se preparar bastante para a competição que terá pela frente. Pô, mas logo em Vila Velha!? É futebol ou polo aquático? Porque a coisa lá parece bastante “molhada” com estas chuvas incessantes…Só espero que o projeto de retorno à primeira divisão do futebol brasileiro, já em 2010, não comece a fazer água desde já, né!?
Mas, pensando bem e relembrando o término daquele fatídico jogo contra o Atlético Paranaense, que definiu a queda do Vascão, percebi que não conseguia chorar como aqueles corinthianos que vi na TV, no ano anterior. Nem fiquei tão abalado assim. “Que torcedor ingrato”, pensei eu. Por que será? Só voltando às origens, talvez eu tivesse esta resposta. Afinal, por que cargas d’água fui querer ser logo torcedor do Vasco, porra!? Por que eu não criei juízo e fui torcer para o Flamengo, como a maioria dos “filas-das-putas” dos meus amigos que me ligavam, sem parar, pra me gozar, naquela noite, logo que acabou o jogo? E as piadas? As mais escrotas possíveis, do tipo: “Virou playbloy? Só anda de rebaixado, agora!” ou ” Já fez assinatura da TV a cabo? Senão não verá os jogos do seu time…”. É de tirar qualquer um do sério.
Mas, ainda bem que a gente racionaliza, quando coisas desagradáveis acontecem. Aí comecei a me questionar o “porque” de gostar tanto assim do Vasco a ponto de poder dizer que é meu time! Meus pais eram Fluminense, minha irmã e minha mulher, flamenguistas. Dos mais chegados, só aquele cunhado chato era vascaíno. Porra, seguir exemplo de cunhado, quando tudo indicava outra opção, é muita burrice, mesmo! Só hoje vejo isso. Olha a merda aí: segundona! Bom, antes eu já não aguentava ver 90 minutos de futebol na primeira divisão com aquele monte de gente embromando pra não se machucar, imagine agora na segunda divisão? Imagine o clássico da monotonia: Vasco x ABC. Pô, ninguém merece!
Futebol é chato, por natureza! Só gosto de ver mesmo os gols. Ultimamente, nem isso, pois quase sempre eram contra o Vasco. Aliás, para que ter time em um esporte que a gente nem morre de amores, não é verdade!? Além disso, não jogo nada. Sou um tremendo perna-de-pau. Chamo a bola de “vossa excelência”. Se fosse tênis, aí sim. Esporte de elite. Ninguém embroma, não tem agressão, não tem juiz ladrão e ainda tem tira-teima eletrônico para nenhum “hermano” querer fazer gol com a mão e eliminar o adversário com uma jogada inválida. Lá ninguém acaba com uma jogada fazendo falta. O craque pode mostar todo o seu talento, sem ninguém atrapalhar. Não existe gritaria, nem xingamentos. O jogo flui silenciosa e agradavelmente e se o adversário ficar enrolando é aí que perde mesmo! Sempre alguém vai ganhar, no tênis. Não aguento com essa babaquice de zero a zero do futebol. Ahhh, pára com isso! Chega disso!
Preciso parar de perder tempo com este “ópio do povo”. Eu nem sei se posso me considerar do “povo”, pô! Cara que já leu “O Capital” de Karl Max pode ser considerado “povo”? Cara que coloca em sua lista de melhores filmes do cinema, “Cidadão Kane” pode ser considerado “povo”? Cara que tem pavor a cachaça pode ser considerado do “povo”? Nem pensar…Então, meu negócio é mesmo tênis, galera. Ufa, que baita alívio. Não sei como demorei tanto a perceber o óbvio…
Bom, então voltando ao que interessa, eu dizia que adoro cinema. Cinema, sim, é cultura e só nos traz alegrias e boas lembranças. Isso me faz até lembrar daquela cena antológica do filme “Titanic” em que Jack Dawson, personagem brilhantemente interpretado por Leonardo Di Caprio, abre os braços na proa do navio, antes do desastre (claro!) e grita: “I’m the King of the World“. Que no bom e velho português deve ser mais ou menos algo como:…………. “VASCÃO, AFUNDA MAIS NÃO! VAMOS SUBIR, PORRA!!!!”……Buááááááááááaááá…………
HSF
Olha a recepção que os capixabas fizeram para o timão chegando ao aeroporto em Vitória: