Carteirinha de torcedor! Alguém merece?!

Já estive do lado de lá (público), na gestão administrativa municipal e em outros órgãos públicos e, posso afirmar com perfeita exatidão, o quanto dói ouvir de quem nunca fez nada pela melhoria do bem estar social, uma ácida e irônica crítica em cima de uma idéia ou de um procedimento que você, que os defende na condição de agente público, tem certeza de que funcionará. Sei bem como funciona…

Exatamente por isso é que penso muitas vezes antes de lançar alguma crítica, ao setor público ou, em casos mais específicos, até mesmo de, carinhosamente, alcunhar alguma “sacada” proveniente da admnistração pública como sendo uma idéia de jerico. Apesar do cuidado, quando chego a afirmar isso, tenho observado uma relação que atende ao conhecido princípio de Pareto (80-20), ou seja, de cada dez vezes que acho a idéia descabida, acerto 8. Tá bom, não tá?!….

Agora foi a vez do nosso digníssimo Ministro dos Esportes, Orlando Silva, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), divulgar a sua “magnífica” e inusitada idéia de instituir uma “carteirinha de torcedor de futebol”, já para entrar em vigor a partir do brasileirão de 2010. A motivação foi a violência descabida que hoje impera nos estádios de futebol. A tal carteirinha teria uma impressão digital e a “roleta” acusaria a entrada de alguém, digamos assim, fichado, ou seja, que já tenha aprontado alguma em algum jogo dos campeonatos brasileiros, coordenados pela CBF.

E isso não vale só pra torcida organizada não! Qualquer um, terá um prazo definido para se cadastrar, senão, não teria direito a entrar em um estádio para ver o seu time jogar. Como fariam com os turistas, por exemplo?!…

Bom, pelo que lembro dos bancos acadêmicos, tal idéia além de esdrúxula é também manifestamente inconstitucional. Mas, até aí tudo bem! Tem um montão de dispositivo legal vigente por aí, totalmente inconstitucional, mas que foi aprovado por “solicitação” do executivo. Com todo respeito aos legislativos (municipal, estadual e federal), infelizmente, não é de hoje que eles só têm trabalhado, subservientemente, para o Executivo…

O que me preocupa, usando de um português mais “técnico” é se esta merda vai mesmo dar certo ou, de longe, atingir seus objetivos. Alguém já ouviu falar em RG? Registro Geral ou Carteira de Identidade? Com base neste documento oficial, já seria possível fazer um controle mais rigoroso da entrada de desordeiros nos espetáculos de futebol. Sem contar que o próprio ingresso, com código de barras, chips e tantos outros “gadgets” já comportaria mecanismos sofisticados de cerceamento de “vagabundos”, atrapalhando a vida de quem quer só se divertir, sozinho ou com a família.

Outro ponto a ser considerado é que a necessidade de se manter a ordem pública cabe ao Estado, de diversas formas, sendo uma delas, através de suas forças policiais que, em casos de espetáculos “públicos” como jogos de futebol para mais de 10 mil torcedores, deve estar presente e pronta para coibir atos de vandalismo, violência, agressões e tudo o mais. Ali, meu amigo, tem de valer tudo para se manter a paz, desde a simples presença do policial em quantidade relevante à determinação da voz de prisão e, até mesmo, o uso da força, na sua proporcionalidade necessária. Lamento dizer, mas tem gente que só sossega tomando porrada. Politicamente incorreto, eu sei, mas é verdade, não é!?

Por outro lado, a violência dos estádios, infelizmente, não pára dentro deles. Segue pelas ruas, tão-logo terminem as partidas mais disputadas. E, muitas vezes, a pancadaria e a covardia, correm soltas, momento em que uma carteirinha dessas, talvez, só tivesse a utilidade como arma, se for de PVC então, melhor ainda, poderia até cortar uma garganta…rs…

Mas, vamos dar tempo ao tempo e ver se a minha previsão, desta vez, estará dentro dos 20% de Pareto. Isso significará que a idéia terá sido brilhante e bem sucedida e, não apenas, um espalhafatoso evento de marketing estatal. Não torço contra, não! Todavia, acho que a adoção de carteirinhas funciona muito bem com estudantes, como bem entende o nosso Ministro, só não sei se funcionaria com desordeiros profissionais que, para muitos deles,  não bastaria ficar de fora de um jogo. Precisariam mesmo é ficar de fora da sociedade!

Dizem que o cavalo árabe é um dos mais inteligentes de sua espécie. Senhor Ministro, por enquanto, por ainda não termos todos os detalhes da operacionalização da coisa, vamos dizer que essa história de “carteirinhas” não chega a ser uma idéia de jerico, talvez, de cavalo árabe…

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HSF


Trote: uma idiotice que precisa ter fim

troteNunca soube o que é ser vítima de um trote de faculdade. Não sei se, porque dei sorte ou por excesso de zelo. Talvez até, por ter tido a felicidade de usar uma combinação de ambos, o fato é que, em 1985, quando entrei na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), para fazer o meu primeiro curso, engenharia elétrica, consegui me livrar desse abominável, detestável, criminoso e inoportuno “ritual de boas vindas” a que se dá o nome de trote.

Apesar de não conhecer esta modalidade de humilhação, nem por isso, fico menos revoltado quando vejo, todo ano, notícias e mais notícias de vítimas nas faculdades. E noto, inclusive, certo aprimoramento no requinte deste sadismo acadêmico. No meu tempo, o calouro sofria com a cabeça raspada e com um banho de ovo e farinha de trigo, enquanto era obrigado a fazer algumas palhaçadas, no meio de uma roda formada por risonhos e covardes veteranos. Já a caloura, conseguia se livrar de perder os cabelos que, em compensação, eram tingidos com qualquer tipo de substância, desde que, não fosse tintura de cabelo, claro! Hoje, vejo gente sendo chicoteada, esmurrada, obrigada a ingerir elevadas doses de álcool, queimadas com substâncias químicas, privadas do direito de ir e vir, dentre outros absurdos…

Há quem justifique historicamente o trote alegando que se trata de uma tradição secular, iniciada na Idade Média, quando o calouro tinha seus cabelos raspados e sua roupa queimada em decorrência das péssimas condições gerais de higiene da época. Apesar de humilhantes, eram, primordialmente, iniciativas que visavam à saúde pública e ao combate à indesejável proliferação de doenças. A partir daí, a maioria das faculdades da Europa adotou tais procedimentos que, persistiram até hoje, por todos os cantos do mundo, ainda que não tenhamos mais uma justificativa plausível. Continuar lendo Trote: uma idiotice que precisa ter fim