Minha família sempre foi muito religiosa. Uma herança italiana, característica dos imigrantes que aqui desembarcaram, no início do século XX, com uma mão na frente e outra atrás, mas com uma vontade enorme de trabalhar e uma inabalável fé de que a providência divina haveria de lhes proporcionar dignidade em terras estrangeiras. A mesma fé que confortou a minha mãe, durante os seus últimos 12 anos de vida, marcados por uma luta desleal contra um desgraçado câncer. A fé que conduzia meu pai, à Catedral Metropolitana de Vitória, todo santo dia após o trabalho, para que a missa pudesse lhe dar a paz de espírito necessária, como parecia crer.
Todavia, mesmo todo este ambiente de overdose religiosa, do qual me originei, não foi suficiente para embaçar a minha enorme curiosidade de procurar a minha verdade sobre tudo, me colocando, quase sempre, em posição defensiva quanto a todas as questões que me eram forçadas goela abaixo, sem direito a perguntas. Heresia, para mim, sempre foi não questionar os dogmas! Outro ponto que sempre foi alvo de minha inquietude e repúdio era quando algo perfeito, santo ou puro demais me era apresentado, como real ou possível. Admito que eu chegava a ser inconveniente, com as perguntas que fazia, só para satisfazer o meu capricho de nunca aceitar versões públicas iniciais que tivessem como objetivo, pintar um santo no lugar de um homem. Para mim, essas publicidades oficiais sempre carregavam mais mentiras do que verdades. Continuar lendo A humanidade precisa de heróis de carne e osso