10 motivos para se ficar bem longe da política

O meu interesse pela política começou sem eu bem saber quando. Não lembro o que ou quem desencadeou o meu envolvimento com a política, mas sei que em um determinado momento, fui substituindo minha despretensiosa leitura juvenil por livros de conteúdos mais densos, cujas mensagens, talvez eu ainda nem as tenha assimilado por completo. Foram inesquecíveis passeios pelas obras de Marx, Maquiavel, Platão, Bobbio, Hobbes, Comte, dentre tantos outros.

Ocorre que, como quase tudo na vida, existe um abismo entre a teoria e a prática. Uma coisa é a teoria política e a ciência política e outra absurdamente diferente é a política na prática, tal qual nós, brasileiros, a conhecemos (..ou pensamos que conhecemos…). É quando a máxima atribuída a Otto Von Bismarck dizendo que a “política é a arte do possível” ganha nova dimensão, novo significado. Ora, nós crescemos aprendendo que, na vida, nem tudo é possível! Mas, surpreendemente, na política, basta um toque de arte e um dedo de prosa para que o impossível se torne possível. Para os menos incautos este “fenômeno” já deveria, por si só, ser um indício de que algo talvez não cheire tão bem neste ambiente…

Embora eu não esteja, atualmente, envolvido diretamente com política, vez ou outra me pego pensando a estratégia política adotada pelo político “A” ou “B” e o que eu faria se estivesse no lugar dele. Fazer política assim, como num videogame, ainda vá lá, mas entrar de verdade no jogo é algo que custa muito caro (…não falo só de dinheiro aqui não…rs). Quem se envolve com a política, poderá ter alegrias, claro, mas é certo que terá muitos, mas muitos aborrecimentos. Mas, não tem jeito, gosto não se discute e eu devo confessar que mesmo conhecendo a política por dentro, mesmo tendo convivido de perto com as suas mais infames e repugnantes características, gosto de política. Fazer o quê?! É mais forte do que a minha razão…

O perigo é quando a pessoa idealiza a política como algo glamoroso ou mesmo pensa que gosta da política mas, na verdade, gosta mesmo é de poder. Nestes casos, eu aconselharia que estas pessoas procurassem, veementemente, outras formas de glamour ou de poder (…são tantas!…) e fugisse com todas as suas forças da política, sob pena de ser muito infeliz e frustrada dentro deste tão atípico meio que, via de regra, seleciona as pessoas pela sua própria incapacidade de resistir às suas mais diversas provações.

Para facilitar a vida de quem ainda não decidiu se entra ou não na política, resolvi fazer uma lista de motivos (acredite, são reais!) para que você não caia de paraquedas no ambiente hostil da política, sem ter a mais absoluta certeza do que está fazendo. Quero deixar claro que não se trata, absolutamente, de um desestímulo à entrada de pessoas na política. A política sempre precisará de pessoas bem-intencionadas, afinal de contas, alguém precisa fazer este trabalho que é tão importante para a manutenção da ordem social e do estado de direito democrático, não é verdade!? Então, pelo menos, que sejam políticos vocacionados para aquilo que os espera.

MOTIVOS PARA VOCÊ SE MANTER LONGE DA POLÍTICA

(se for o caso)

1) DINHEIRO

Você acha que vai ganhar dinheiro com a política? Esquece!… Eu digo sempre, ironizando a célebre frase do Bismarck, que a “política é a arte de se administrar a escassez“. No meio político, costuma faltar tudo! Falta gente bem intencionada, falta tempo, faltam projetos sérios, faltam votos, faltam cargos, falta conhecimento, falta educação, falta sinceridade/honestidade, falta formação, falta bom senso, faltam bons salários, falta tranquilidade e falta inclusive o próprio dinheiro. E é exatamente neste meio que se pretende ganhar dinheiro?!…rs

É claro que, infelizmente, há políticos que conseguem ganhar dinheiro, aumentar vertiginosamente seu patrimônio, mas neste caso, com raras exceções, o que o fez ganhar dinheiro foram seus “negócios” relacionados à política. Negócios escusos e tipificados como crimes como tráfego de influência, uso de informação privilegiada, dentre tantas outras falcatruas das quais temos notícia em nosso dia a dia.

Mas, se no seu caso você não quer se expor desta maneira, nem tampouco cometer tais crimes, lamento informar que na política, de forma honesta e legal, você NÃO vai conseguir ganhar dinheiro. É bem mais provável que você perca tudo que acumulou, antes de decidir se aventurar na política.

Ultimamente, tem sido comum os políticos abrirem empresas de “consultoria” depois que acabam seus mandatos e eles se vêem na famigerada e inóspita “planície”. Pode até parecer uma forma legal de ganhar a vida depois da atividade política, não é mesmo!? Mas, só parece! Eu pergunto: você contrataria, por uma fortuna, um “consultor” que a vida inteira a única coisa que fez foi política? E o pior é que tá cheio de gente contratando estes “serviços” altamente qualificados, por aí….rs. Existe uma tese (é só uma tese e NÃO é minha!!!…) de que estas “consultorias” poderiam bem ser uma forma de se “lavar dinheiro” obtido ilegalmente durante os mandatos ou durante a ocupação de cargo público. Seria, mais ou menos assim: Acaba o mandato e o ex-político começa a aparecer com a grana que “ganhou” durante sua vida pregressa. Sob o título de “serviço de consultoria”, paga uns 15% de tributos e……..voilà……dinheiro limpinho, legalizado, na conta-corrente e o no Imposto de Renda…..A tese até que é boa, mas será?!…..rsrsrs

Bom, ainda bem que para quem realmente gosta de política, dinheiro não é tudo!

2) IMAGEM

Não vou falar nenhuma novidade, mas a imagem que os políticos têm, para a opinião pública, é a pior possível. Políticos possuem a imagem queimada em quase todo o mundo e, no Brasil, isso não é diferente.

Já vi, muitas vezes, o noticiário do horário nobre, apresentar uma matéria mais agressiva no caso de uma mudança de partido feita por um político, tornando emblemática a sua infidelidade partidária do que no caso de um cruel estuprador de menores indefesas. No mínimo se deduz que, para a mídia, bater em político da mais audiência do que bater em estuprador.

Portanto, se pretende se tornar um político, saiba que muitos vão torcer o nariz quando você entrar no recinto. Com exceção dos inúmeros puxa-sacos que você vai encontrar na política ou mesmo com exceção daqueles que possuem interesses pessoais e/ou financeiros em sua posição política, boa parte dos demais não fará a menor questão de apertar a sua mão. Alguns, inclusive, farão de tudo para nem serem vistos a seu lado. Eu sei que esta é uma dura realidade para quem gosta de política, mas a vida é assim….rs

Nestas horas eu me permito lembrar da piadinha daquele famoso aluno endiabrado, Joãozinho:

A professora pergunta na sala de aula: 
– Pedrinho qual a profissão de seu pai?
– Advogado, professora. 
– E a do seu pai, Marianinha? 
– Engenheiro. 
– E o seu, Aninha? 
– Ele é médico
-E o seu pai, Joãozinho, o que faz?
-Ele… Ele é dançarino numa boate gay!
– Como assim? (pergunta a professora, surpresa) 
– Fessora, ele dança na boate vestido de mulher, com uma tanguinha  minúscula de lantejoulas ; os homens passam a mão nele e poem dinheiro no  elástico da tanguinha e depois saem para fazer programa com ele. 
A professora rapidamente dispensou toda a classe, menos Joãozinho
Ela caminha até o garoto e novamente pergunta:
– Menino, o seu pai realmente faz isso?
– Não, fessora. Agora que a sala tá vazia, eu posso falar : 
Ele é Deputado Federal….. Mas dá uma vergonha falar isso na frente dos  outros !!!

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, imagem não é tudo!

3) FAMÍLIA

Em raras exceções ou quando a relação familiar se confunde com uma simbiose de interesses políticos, a família, esta instituição milenar, dificilmente resiste à injusta concorrência exercida pela política.

Normalmente, as relações familiares de políticos, são extremamente superficiais, isso quando não são mantidas somente para se construir falsas aparências. Mas, esta mazela não é “privilégio” dos políticos. Acredito que a família de qualquer um que precise se dedicar quase que exclusivamente (tal qual um escravo!) a uma única e determinada atividade verá, mais cedo ou mais tarde, a sua família agonizante.

É triste! Mas, é muito difícil um político ter seus momentos íntimos, sozinho e descompromissado com seus entes queridos. Muitas vezes, ele não vê seus filhos crescerem, não sabem a comida que eles mais gostam, não sabem em que ano estão na escola, não sabem quem são seus melhores amigos, na verdade, às vezes, nem sequer conhecem, mais a fundo, os seres humanos que se tornaram seus filhos.

E quando se dão conta do que perderam, em termos familiares, já é muito tarde para o conserto e a família está destruída. Afinal, dificilmente, poderia ter sido diferente. Não há mesmo tempo suficiente para a mínima dedicação à família, diante de tanta necessidade de se angariar votos, participar de negociações e reuniões, inaugurações das  mais penosas e chatas  e mais um tanto de coisas que um político precisa fazer para se manter na crista da onda. Da muito, mas muito trabalho mesmo!! Trata-se de um altíssimo preço, não é verdade!?

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, família não é tudo!

4) RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Como assim, reconhecimento profissional!? Na política as pessoas, normalmente, são valorizadas e/ou “reconhecidas” pela sua capacidade de gerar votos (direta ou indiretamente). Para sermos bem simplórios, a moeda que interessa chama-se VOTO.

Salvo exceções, seu reconhecimento existirá na medida exata de sua utilidade. Na verdade, tenho até as minhas dúvidas se não ocorre exatamente isso também em outras áreas do relacionamento humano que não sejam a política. Acho que este jogo de interesse, em menor ou maior escala, funciona em todo lugar.

Assim, “companheiro e companheira”, se algum político colocou a mão sobre o seu ombro ou o levou para algum partido, tenha certeza de que não é pela sua qualificação profissional, nem pelos seus lindos olhos castanhos mas, naturalmente, será em função dos votos que você poderá agregar ao grupo político ou mesmo a ele.

De mais a mais, acredito cegamente na tese de que é IMPOSSÍVEL alguém conseguir ser um autêntico político e conciliar qualquer outra atividade profissional. Se alguém afirmar isso, sou capaz de dizer que das duas uma: ou está mentindo ou está se enganando, pois o seu desempenho como político ou como profissional há de estar comprometido.

Claro que existem exceções, mas não deveriam ser elas a pautarem as nossas decisões. Tente lembrar de algum profissional ou empresário de destaque e bem sucedido que tenha entrado para a política (não me refiro a quem já estava aposentado ou que tenha largado a profissão…rs). Tenho certeza de que você terá MUITA dificuldade para lembrar de um nome. Sabe por quê? Porque estes exemplos raramente acontecem. Simplesmente porque é quase IMPOSSÍVEL conciliar de forma séria e responsável a atividade político-partidária e eletiva com qualquer outra atividade econômica.

Por fim, uma dúvida: se você precisasse de um bom cirurgião ou um bom advogado, para tratarem de uma questão vital, você contrataria um que tivesse mandato ou que ocupasse um cargo de Secretário?

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, reconhecimento profissional não é tudo!

5) AMIZADE

É possível você fazer amigos, de verdade, na política. Mas, é improvável!

As “amizades” costumam perdurar enquanto os interesses forem similares e os projetos políticos não forem mutuamente excludentes. Quando isso não ocorre, as amizades costumam acabar.

Outro ponto que atrapalha muito nas relações dentro da política é que, normalmente, se mente descaradamente e durante quase todo o tempo. Para quem ainda não havia percebido, POLÍTICO MENTE! Mente com todas as forças, pois do contrário, teria suas chances de sobrevivência política muito prejudicadas.

Na política, o certo é que você passe a ter correligionários, parceiros, aliados, chefes mas, amigos, acho muito difícil! Mas, se você conseguir ter esta rede que acabei citar, para quê se preocupar com amigos, não é verdade!? Sua eleição já está quase garantida….rs…

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, amizade não é tudo!

6) STATUS

O status proporcionado pela política é algo duvidoso. Se existe, é para muito poucos.

Fazendo uma analogia com o futebol, se me permitem copiar o insigne professor Lula, imagine o jogador Ronaldinho Gaúcho, no auge de sua carreira profissional. Só andava de Ferrari, frequentava os melhores restaurantes e casas noturnas, apertava a mão de políticos e artistas famosos e tudo o mais que se pode esperar de alguém com seu status. Agora imagine o “Deividyshon” (fictício, claro!), lateral direita no início de carreira, do Parnahyba, time do interior do Piauí. Ganha um salário mínimo por mês, só anda de bicicleta e a maior extravagância que já fez com o seu dinheiro foi pedir duas coxinhas e uma fanta no boteco da esquina. O pior é que existe uma forte probabilidade do pobre “Deividyshon” não conseguir ascender na carreira. Agora, sabendo que existe um Ronaldinho, eu pergunto: quantos “Deividyshon´s” existem no futebol brasileiro?

Assim é na política! Você até poderá chegar a ter algum status, mas vai ter de comer muita terra até chegar lá. O melhor mesmo é considerar que não haverá nenhum status nesta atividade política e seguir em frente. Assim, você evita decepções e não cria empecilhos para o seu sonho de ser representante do povo.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, status não é tudo!

7) LIBERDADE

Na política se tem nenhuma ou muito pouca liberdade. Os interesses dos grupos políticos que tiverem contribuído, direta ou indiretamente, para a eleição do político ou para a sua ocupação de cargo público, é que ditarão a sua forma de agir, de se manifestar e de conduzir os trabalhos (às vezes até querem influir na sua forma de pensar…rs). E se você se rebelar, depois de eleito ou nomeado, fazendo aquilo que bem entender, ao arrepio da vontade do grupo político a que “pertence” (ou a que deveria pertencer), fique certo de que suas horas estarão contadas. Você será rifado, mais cedo ou mais tarde. Esta é a regra! Todo dia aparece um caso semelhante a este na mídia.

Para se ter uma ideia da falta de liberdade na política basta analisar o GIGANTESCO quadro de cargos em comissão de algum executivo, por exemplo, do governo estadual capixaba. Pode parecer incrível, mas cada um daqueles cargos comissionados possuem uma ligação com algum grupo político que o indicou e que o mantém. Ninguém está lá de graça! A teia de influência é minuciosa. Até mesmo o mais simplório atendente de uma repartição pública, comissionado, terá de se submeter à vontade de seus “padrinhos”. Imagine um diretor de autarquia, secretário ou subsecretário de estado? Preciso falar mais alguma coisa? É esta a “tal liberdade”…..!?….

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, liberdade não é tudo!

8) SEGURANÇA

Se você for eleito por 4 anos, pode-se dizer que você terá segurança ou estabilidade pelos 4 anos.  A não ser que, em seu mandato, você faça bobagens homéricas e se indisponha com tudo e com todos à sua volta, você ainda corre o risco de ter o mandato ameaçado em um processo por falta de decoro ou eu alguma “armação” feita para a sua queda. No melhor cenário, você só não consegue se reeleger, mas dentro dos 4 anos, pode-se considerar  de certa forma seguro.

Fora isso, a segurança é tão somente uma ficção. Simplesmente, não existe! Alguém com mais poder do que você (todo mundo, um dia, encontra alguém com mais poder) de uma hora para a outra e a serviço de um plano maior, do qual muitas vezes você não faz parte, decide que você não serve mais para aquela função e, se você tiver sorte, lhe oferece uma outra função com um salário 3 vezes menor. É pegar ou largar! É assim que funciona! Definitivamente, você não vai encontrar nenhuma segurança no meio político.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, segurança não é tudo!

9) QUALIDADE DE VIDA

Normalmente, na política, não se tem hora para nada! Toda hora é hora para se fazer política, pedir votos e ouvir o clamor do povo, ainda que você não faça a menor ideia de como poderia ajudá-lo. Dia de semana, sábado, domingo e feriado, você político, precisa aparecer, ser visto e fazer contatos. Tempo é voto e voto é o que interessa!

Sabe aquela inauguração do projeto de reconstrução daquele meio-fio do interior do menor município de seu Estado? Pois é! É bem capaz de você precisar comparecer para ouvir aqueles “belíssimos” discursos e ficar por conta disso, todo o seu domingo. Mas, afinal você iria ficar com a sua família no domingo não é mesmo!? Para quê? Bobagem…rs

Se você não consegue ser completamente dono de sua agenda e se os eventos não respeitam qualquer regra, podendo ocorrer a qualquer tempo, como é possível manter uma qualidade de vida, com a convivência em família, prática de esportes, de estudos, de lazer, etc? Então, esqueça também a qualidade de vida.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, qualidade de vida não é tudo!

10) LEALDADE

Em todas as atividades em que se tenha o envolvimento do ser humano, vamos ter o risco de encontrar pessoas desonestas e/ou desleais. Assim também ocorre com a política.

Todavia, um olhar mais detido, mais cuidadoso (…ou tendencioso…) pode nos dar conta de que, talvez, na política, dadas as circunstâncias de se estar quase sempre sob pressão, pode parecer que haja uma concentração maior de “deslealdade” do que se poderia esperar de um ambiente normal, como o ambiente corporativo, por exemplo.

Embora eu não tenha certeza sobre esta assertiva, aconselharia àqueles que pretendem fazer parte, em algum momento, do meio político que não decida com base na expectativa de que estaria entrando no ambiente de maior lealdade do mundo. Talvez, fosse até melhor pensar o contrário, assim, evitaria decepções e/ou desacertos.

Tive a oportunidade de conhecer políticos leais que cumpriram, à risca, o prometido ou o combinado. Mas, isso foi minoria absoluta. A maioria mudou o pensamento ou a atitude no meio do jogo. E, como ocorre no direito civil, a parte que descumpre um acordo/contrato desobriga a outra parte, imediatamente, de suas respectivas obrigações. Foi o que fiz, todas as vezes que me senti traído e enganado. Talvez por isso, nunca tenha dado a sorte (ou azar?!…rs…) de criar raízes em nenhum grupo político, quando militei.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, lealdade não é tudo!

 

Espero ter podido abordar de forma descortinada alguns temas polêmicos que envolvem o exercício prático da vida pública. Estas impressões, por natural, podem não ser totalmente verdadeiras para todas as pessoas, em função de que as experiências vividas são, em regra, diferentes umas das outras. Mas, no geral, é bem provável que tudo que foi aqui comentado sirva para a maioria dos casos, restando ao interessado, descobrir por si só, se estaria diante de algo realmente diferente.

Confiar e ser confiado, na política, é muito difícil. Ainda assim, é possível.

Mesmo parecendo uma exposição de alguém pessimista quanto à política, de forma “lato“, acredito piamente na possibilidade de termos, num futuro breve, políticos mais comprometidos com as suas reais e constitucionais missões. Políticos que não precisem se esconder em função da desgastada imagem construída em torno da função pública.

A política precisa, como nunca, de pessoas que estejam dispostas a encará-la como um sacerdócio franciscano. No início, será uma doação, sem que nada se espere em troca. Uma luta inglória, para enfrentar todos estes itens acima mencionados.

Se você tem estômago para tudo isso e um espírito altruísta e de cooperação pública, a política e o Brasil precisam de você! Não hesite! Filie-se a um partido político e comece a trabalhar.

E VIVA A DEMOCRACIA!

HSF

Leia também: Política para quem precisa de política.

O “drama” da classe média brasileira…

Até pouco tempo atrás, a classe média alta do Brasil se “lambuzava” com uma situação que, embora haja divergência, nada me tira da cabeça que tinha algo de surreal (ilusório): dólar a R$ 1,59.

Os números provavam que a festa era grande com este dólar tão baixo. Viagens, compras no exterior, cartões de crédito internacionais, compras em sites internacionais, etc, etc, etc… A coisa começou a tomar proporções tão relevantes que o governo brasileiro, preocupado em coibir tais ações, chegou a criar (acho que em vão!) até uma “forma” de inibir compras no exterior, majorando o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre estas compras feitas por cartão, para 6%. Não fez nem cosquinha, porque  a “farra” continuou….rs

Agora, neste setembro de 2011, crises e instabilidades no mundo devolvem ao todo poderoso dólar, parte daquilo que havia perdido, tendo a moeda quase atingido o patamar de R$ 2,00. Bom para as exportações? É… talvez! Mas, péssimo para aquelas comprinhas no exterior, principalmente em Miami, tão planejadas durante todo ano.

Não sei se este aumento será duradouro (…já caiu de novo um pouquinho….) ou se virão novas políticas econômicas que venham a estabilizar a relação Real (R$) x Dólar (US$), mas fico aqui pensando no “drama” daqueles que, nos últimos anos, haviam esquecido as compras no Brasil. As pessoas diziam: “…por que comprar aqui, se nos EUA compra-se marca famosa, com qualidade e muito mais barato?”. Depois de ouvir isso muitas vezes, devo admitir que acabei reconhecendo que tal frase carrega uma certa lógica, embora me pareça prejudicial ao país.

O tempo dirá se teremos alguma mudança na atitude e no comportamento de alguns brasileiros por conta desta nova aparente realidade econômica. Como bom patriota, a minha torcida será sempre pela preservação e recuperação da indústria e do comércio interno do país, fortalecendo a nossa balança comercial, aumentando postos de trabalho e passando para o Mundo a imagem de um Brasil desenvolvido e respeitado pelas suas políticas públicas que associem um capitalismo moderno sem molestar as garantias e direitos fundamentais do cidadão (lindo!).

Agora, como a gente sempre quer “omelete sem quebrar os ovos”, confesso que acharia muito melhor se fosse possível a busca de uma uma solução para termos todos estes avanços, sem prejuízo daquela boa e velha comprinha internacional. Eita vício difícil de se largar!…..

HSF

 

Nas malhas do Fisco

Um de meus primeiros clientes foi um pequeno comerciante, de origem italiana, lá de Santa Teresa (ES). Sempre que eu ia alertá-lo sobre a visita de fiscais, ele me dizia: “…fiscal, só da porta pra fora. O dia em que um fiscal souber o que acontece dentro da minha firma, eu desfilo na praça Costa Pereira, vestido de baiana…”. E assim foi até o dia em que fechou as portas, sem nunca ter sido “amolado” pelo fisco.

Eram outros tempos. Hoje, este discurso não prospera. Ano após ano, o Brasil tem inovado em relação ao recolhimento de tributos. Os governos (União, estados e municípios) têm atualmente, um farto repertório de exigências acessórias cuja responsabilidade declaratória é transferida às pessoas físicas e jurídicas, com a finalidade exclusiva de confrontar informações fiscais e, com isso, descobrir as inconsistências, coibindo a sonegação.

Sob este cenário, a arrecadação tributária brasileira apresentou um crescimento de 264,49% entre 2001 e 2010. No mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou somente 89,91%. Boa parte deste invejável resultado se deve, sem dúvida, ao significativo aumento na eficácia de cobrar.

Se você possui imóveis alugados, saiba que a Receita Federal poderá conhecer quanto recebeu, através da declaração de informações sobre atividades imobiliárias (DIMOB). Pagando despesas médicas, suas ações poderão ser vigiadas pela declaração de serviços médicos e de saúde (DMED). Seus gastos com cartão de crédito podem estar sendo monitorados pela declaração de operações com cartões de crédito (DECRED). Com a mesma finalidade, teríamos ainda a DIRF, DACON, DCTF, DOI, SPED, DIRPF e mais um tanto desta indigesta sopa de letras.

Para quem ainda não se deu conta, vivemos hoje um verdadeiro “big brother tributário”. Tão difícil escapar alguma ação dos “olhos” governamentais que mais vale a adaptação do jargão aplicado ao crime, resultando na certeza de que: “a sonegação não compensa”.

Rechaçando os possíveis abusos estatais, é evidente que, se almejamos um lugar no primeiro mundo, devemos aplaudir tais rigores que poderão, em tese, minimizar a inescrupulosa concorrência desleal, distribuir mais renda e estancar desvios de recursos públicos.

Entretanto, nós, brasileiros, protagonistas deste “reality show” sem graça, devemos fazer a nossa parte, devolvendo aos governos também a nossa mais intransigente fiscalização, reprimindo o excesso de gastos públicos e exigindo cada vez mais eficácia governamental, desta feita, no que tange à esperada contraprestação pública.

Desconfio que em matéria tributária, talvez estejamos presenciando a histórica derrocada do detestável “jeitinho brasileiro”, mantido por décadas e que tão caro custou ao país. Aliás, toda vez que ouço alguma rara bravata de contribuinte sobre sonegação, me vem logo à cabeça a inevitável imagem de um velhinho envergonhado, vestido de baiana e desfilando em praça pública.

Haroldo Santos Filho é advogado, contador, engenheiro, mestre em administração financeira (UnB) e sócio da Haroldo Santos Consultoria Empresarial.

** Artigo publicado no jornal “A GAZETA”, de Vitória(ES), em 16/05/2011.

Vitória: cada dia mais linda!

Vitoria_atireiopaunogatoEu amo Vitória! Os estudiosos costumam dizer que o amor é um sentimento que se apresenta em “cores” e formas distintas dependendo de como e com quem você se relaciona. Eu só espero que também tenham explicação para esta forte cumplicidade e incondicional amor que sempre nutri pela minha cidade natal.

Como nas pessoas que amamos, nas cidades, também encontramos defeitos, falhas, fragilidades e projetos inacabados, passíveis de críticas, naturalmente. Só que, embora saibamos terem fundamento, não nos sentimos à vontade quando ouvimos isso de algum “estranho” ou morador de outra cidade. Imaginem alguém chamando um filho seu (ou parente próximo) de “orelhudo”, por mais consciência que você tenha da referida deficiência!? Você não ficaria nem um pouco satisfeito, não é verdade!?

Lembro que, certa vez, ainda na condição de secretário municipal, do agradável município de Vila Velha(ES), em plena reunião de secretariado, foi inevitável criar um certo mal estar com o Prefeito Max Filho. Ora, ele abriu a reunião, irônico, achando muito engraçada uma carta de leitor publicada em “A Gazeta” que, em resumo, ridicularizava a nossa Capital. Não lembro dos detalhes, mas em linhas gerais, dizia que “Vitória era mesmo uma cidade maravilhosa pois suas duas vistas mais bonitas eram a do Penedo e a do Convento da Penha” (localizadas em Vila Velha), e que “as suas melhores praias começavam na Praia da Costa e iam muito além da linda praia de Itaparica…”, também, ambas em Vila Velha. Como NUNCA tive “papas na língua”, pedi a palavra e disse ao nobre Prefeito que um político com a sua ‘”estatura” e notória pretensão de exercer outros cargos estaduais (….governador, por exemplo, como sempre quis…), deveria medir as suas palavras ao criticar a Capital, bem como, evitar o obtuso fomento a bairrismos abomináveis entre cidades coirmãs. Tirando os muitos puxa-sacos de plantão que riam da piadinha, as demais testemunhas poderão afirmar o acontecido e confirmar que o “alcaide” não gostou nem um pouco de nossa intervenção.

Claro que não se podia esperar outra reação de uma cara que foi nascido e criado no bairro de jucutuquara (na “nação” jucutuquara), timidamente, torcedor do Rio Branco e da Escola de samba Unidos de Jucutuquara. Um cara que em sua biografia vai poder dizer que já tomou um inofensivo, mas crestado tiro de sal nas costas, ao ser flagrado por segurança do Museu Solar Monjardim, sobre um pé de manga, degustando a fruta “proibida”. Mais tarde fui saber, pela academia, que aquela arriscada aventura de menino, no direito, se chamava furto e invasão de propriedade….rs…Mas, honestamente, pergunto: como eu poderia ficar inerte ao terem falado mal de minha cidade, de minhas raízes?…

Para ser justo, a antiga luta dos Max em favor de sua terra (Vila Velha) tem um certo sentido. O fulcro central estaria na injusta distribuição de renda, entre os municípios, resultado de políticas tributárias parciais e tendeciosas, como o Fundap, por exemplo. Não comungo, plenamente, com esta tese, mas analisando os números, entendo perfeitamente a revolta dos “canelas-verdes”. No meu último ano no executivo de Vila Velha, o orçamento anual daquela cidade girava em torno de uns R$ 150 milhões, enquanto Vitória “brilhava” com um orçamento de uns R$ 850 milhões. Se considerarmos que a área de Vila Velha é 2,23 vezes maior do que a de Vitória e sua população supera 30% a da capital (só ilha), de fato, algo nos leva a crer que tal distribuição mereça uma mais justa revisão.

Vitoria_atireiopaunogato_2Independente da polêmica de que Vitória seria mais fácil administrar por ter mais dinheiro (o que discordo!), devo salientar que tivemos sorte, muita sorte, em nossos últimos chefes de executivo municipal. Que tenham marcado a minha lembrança, iniciaria o “pacote” de mudanças significativas em nossa querida Vitória, a partir da gestão do Dr. Vitor Buaiz que, embora esquecido, fez uma gestão elogiável. Depois veio Paulo Hartung, cujas inovações (principalmente sociais) foram seguidas e saudavelmente ampliadas pelo Prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas. Luiz Paulo foi e é um dos políticos mais inteligentes que tive a oportunidade de ver atuando. Mesmo aparentemente “indisciplinado” (no jeito de ser), em suas falas, sempre teve sacadas, verdadeiramente, geniais. (Só perde para o PH, na capacidade de se articular e colocar “vascaínos e flamenguistas” do mesmo lado: do seu! rsrsrs…).

Mais recentemente, o Prefeito João Coser, um merecido retorno do Partido dos Trabalhadores ao Governo Municipal. Sou suspeito para falar da gestão de João (..fui subsecretário e secretário em sua gestão), mas posso dizer que quase todas as boas ações e projetos de Luiz Paulo foram continuados (…alguns só mudaram de nome, a bem da verdade…rsrsrs…). Mas, nas inovações, João mostrou-se um ótimo gestor e, além disso, um dos políticos mais inacreditavelmente leais com os quais já tive o enorme prazer de trabalhar.

Como se pode ver, a construção de uma cidade, ao longo das várias gestões administrativas, carrega uma rica história, jogos de interesse (naturais em política!) e um conjunto de forças que diante de uma “maestro” inábil, certamente, resultaria em desastre ao desenvolvimento municipal. Não foi assim com Vitória, graças às nossas acertadas escolhas e a uma conjuntura aleatória de fatores que, por sorte, conspiraram a nosso favor.

As duas cidades (em uma), amplamente divulgadas nas duas últimas campanhas eleitorais, uma rica e próspera e outra miserável, ainda existem. Suas diferenças vão diminuindo lentamente com os programas sociais e empenho das administrações municipais citadas. São cicatrizes sociais que demandam muito tempo para serem reparadas. Mas, conforto-me ao acreditar que trilhamos pelo caminho correto.

Por mais que eu goste de viajar (…e eu gosto bastante!…), quando retorno, é indescritível o meu prazer ao reconhecer, ainda de longe, a geografia, a arquitetura, monumentos e jardins desta linda cidade! E saber que no dia ensolarado seguinte, logo cedo, estarei lá, assíduo e pontual, caminhando naquele espetacular calçadão de Camburi saudando, do continente, a beleza e graça desta ilha. Parabéns a todos que participaram desta construção, pois tornaram possível esta grande “vitória”. Uma Vitória de todos nós capixabas!

HSF