Cigarro: inimigo social

proibido_fumar_atireiopaunogatoLembro que estava  nos Estados Unidos (Flórida) e uma noite resolvi comprar um vinho tinto para aproveitar os baixos preços de uma autêntico californiano, vendido em seu próprio país de origem. Nas redondezas, walmarts e walgreens faziam uma nítida restrição à venda de bebida alcoólica, limitando este tipo de produto a poucas de suas lojas. Quando a gente perguntava, a alguém que trabalhava nestas grandes redes, sobre a seção em que seriam encontradas as bebidas, das duas uma: ou falavam com orgulho que lá não se vendia bebida alcoólica ou faziam uma cara de horror fazendo parecer até que você teria perguntado sobre a “seção de nitroglicerina”.  Quando eram encontradas, as bebidas eram diferenciadas dos demais produtos, pois não podiam ser colocadas em sacolas comuns, com a logomarca do grupo e, sim, dentro de sacos de papel pardo, como se fossem pães. Teve uma vez até que, no meio da compra, um policial troglodita, ao me ver chegar no balcão com duas garrafas de vinho na mão, para que fossem acrescentadas às compras que lá estavam,  se aproximou da gente e fez com que houvesse a imediata troca da operadora do caixa. Perguntei o “porquê” daquilo e a resposta foi: “a moça do caixa é menor e, por isso, não pode vender bebida alcoólica“.

Lá, o tratamento com o cigarro e, naturalmente, com quem fuma, não é diferente. Radicalismos norte-americanos à parte (…algo que se explica pela cultura e história daquele país…), acho que o tratamento dado a estes dois males sociais, deve ser exatamente assim, por parte de países que almejam ser alçados à categoria de “desenvolvidos”, como o Brasil.

Não abro mão de meu vinho tinto e, já cometi, algumas vezes, a recorrente iditotice de ter um cigarro na boca. Fazer o quê? Esclarecimento não parece ser suficiente para imunizar um cidadão de cometer atos insanos contra a sua própria saúde como fumar, por exemplo. Independente disso, sou favorável ao máximo de restrições impostas a este tipo de consumidor. Ainda que alguns desinformados possam pensar o contrário, é óbvio que se trata de uma questão de saúde pública. 

Mas, o cigarro sofreu dois golpes recentes (achei ótimo!). Primeiro foi o aumento da carga tributária relativa à sua fabricação. E, depois, em momento exemplar, a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) aprovou  o projeto de lei do governo que bane o tabagismo em quase todos os ambientes fechados no Estado. Foram 69 votos a favor e 18 contra.  Espero ansiosamente que as demais Assembléias do país façam o mesmo, a começar pela capixaba que, embora saibamos ser demasiadamente atrelada aos desejos do Executivo, pode marcar pontos a seu favor, junto à sua “patroa” população, de vez em quando, com projetos que, dificilmente, encontrariam oposição do Governo.

Sempre achei hipócrita aquela história de que “uma parte” do restaurante é para fumantes e “outra parte” para não-fumantes. Isso chega a ser hilário, sabendo-se que o ambiente é fechado. Fumantes ou não saem do recinto parecendo um cinzeiro e suas roupas não podem ter outro destino senão a lavanderia. Uma coisa terrível! Isso para não falarmos que, está mais do que comprovado que o tal “fumante-passivo“, aquele que fuma por tabela, está sujeito a todas as mesmas doenças de quem paga para morrer. 

Tabagismo e alcoolismo são males sociais e devem ser tratados como tal. Muita educação e, infelizmente, repressão. O Àlcool, diferente do cigarro, considerando que a pessoa que bebe não vai até a sua mesa e faz xixi na sua cabeça, já possui elementos de coerção suficientes, bastando que as leis existentes sejam fiscalizadas e respeitadas. “Se for dirigir, não beba” e ponto final. Quanto ao cigarro, este ainda gozava de alguns privilégios, como a permissão de se fazer uso em local fechado ou, simplesmente, público (sou contra!). Um verdadeiro absurdo que, parece, está sendo erradicado, aos poucos de nossos costumes.

Ontem fui a uma festa de primeira comunhão de minha sobrinha. Foi num restaurante super conceituado aqui de Vitória, cuja especialidade é comida portuguesa. O Bacalhau e o camarão estavam, simplesmente, sensacionais! Mas, quando cheguei em casa, inevitavelmente, carregava na minha roupa a inadmissível e intolerável consequencia das áreas “fake” de “fumantes” e “não-fumantes”, no mesmo ambiente fechado. Se estava impregnado na roupa, amigo(a), é certo que também foi para meu pulmão…

Que se deixe bem claro, que se trata de uma guerra contra o cigarro, não contra o fumante (…esse idiota consciente, transformado em doente crônico…estou me incluindo, pelo que já fiz….) que vira o alvo da artilharia só porque não teria como ser diferente, até para que as pessoas à sua volta possam ser protegidas. 

Vai chegar o tempo em que fumar só será admissível se o sujeito se trancar dentro do banheiro de sua casa (isso, ainda, quando não houver menores por perto). Espero estar vivo para ver este primeiro momento. No segundo momento, este ainda mais glorioso, terá uma sociedade, formada por nossas crianças de hoje, que se questionará como foi possível, um dia, alguém ter podido jogar tanta merda venenosa para dentro do próprio organismo, através da fumaça. Neste caso, eu sei que já deverei ter voltado ao pó. Mas, tudo bem, já ficarei bastante feliz só de perceber que estamos no caminho certo e sem volta.

Quanto às  grandes e milionárias indústrias de tabaco do mundo, torço para que, antes que sejam forçadas a isso, saibam que são “non gratas” e, por isso, passem logo a investir sua exorbitante riqueza em outros ramos de negócios, talvez não tão lucrativos quanto aquele baseado no vício da população mas que, pelo menos, não se desenvolva às custas de um universo de clientes fidelizados quimicamente e que morrem a cada dez segundos, no Mundo, conforme atesta a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Publicado por

Haroldo Santos Filho

Advogado, contador, consultor de empresas, especialista em processo civil e direito tributário, mestre em administração, gosta de viagens, fotografia, cinema, corrida e tênis

4 comentários em “Cigarro: inimigo social”

  1. Olha, pra começar, adorei sua definição de fumante; tbm respeito as pessoas mesmo possuindo esse vício que eu passo longe, graças à Deus e a um pouco de discernimento. Adorei sua matéria e principalmente pq nessa semana tivemos algumas aulas na faculdade sobre toxicologia, abordando justamente esses temas “Alcoolismo e Tabagismo” além d outras drogas como maconha, cocaína e crack.
    Parabéns e sucesso!

  2. Olá HSF!

    Muito boa a tua crónica.
    Apesar de não beber, sou fumadora e sei o quanto isso é prejudicial. Penso tal como tu. As restrições a estes (e outros) consumos deveriam ser muito maiores. Talvez assim muitas pessoas e eu própria acabássemos de vez com esta tortura! Sou uma fumadora, respeitadora da saúde de cada um (não fumo perto dos meus filhos, não fumo em lugares públicos, não fumo em recintos fechados, etc), mas mesmo assim considero que sou francamente falha de força de vontade, pois não consigo deixar de fazê-lo!
    Abraço
    Luísa

  3. Olá Luísa, boa tarde! Como vai!? Fico feliz que nos tenha feito esta visita, deixando este depoimento tão importante. Saiba que o primeiro passo para se vencer um vício é o reconhecimento de sua força sobre você. A partir daí as coisas começam a ficar mais fáceis. Desejo-lhe tudo de bom e posso lhe afirmar com toda a segurança: se a vida é boa e bela para quem fuma, imagine para quem é livre disso!? Vale a pena tentar parar!!!
    Abração.
    HSF

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