“Dez coisas que eu odeio na corrida”

marcos_caetano_atireiopaunogatoUma dos motivos que me fez assinar a revista O2, sem dúvida, foi a coluna “aquecimento”, do jornalista (e corredor) Marcos Caetano, de escrita fácil, acessível, engraçada e extremamente oportuna. Remexendo a minha coleção de revistas antigas (….que aliás, minha mulher,  há anos, é doida para eliminar….), tive o prazer de reler uma de suas ótimas crônicas, na revista O2 nº 12, de abril de 2004, ou seja, era o término do primeiro aninho de aniversário desta excepcional publicação, que até hoje, prima pela qualidade de suas matérias.

O título do texto era “Dez coisas que eu odeio na corrida”. De forma bem humorada, o articulista descreve acontecimentos altamente desagradáveis que, certamente, serão reconhecidos por todos aqueles que gostam e praticam a corrida com regularidade. O engraçado é que todos já passamos por algo semelhante. Na corrida de rua, são simplesmente inevitáveis os confrontos com situações, como as descritas abaixo. Quem corre, vai gostar. Parabéns, Marcos Caetano!…

1) Madames tranca-rua – São assim chamadas aquelas peruas – ou plínios de meia-idade – que preferem fazer suas caminhadas em grupos de quatro ou cinco. É claro que, para conversar, é melhor que todas caminhem lado-a-lado, mesmo que isso interdite completamente a passagem dos pobres corredores que decidem utilizar a pista de Cooper. Passo por elas várias vezes e escuto seus comentários, sempre aos berros. Os assuntos seguem mais ou menos este roteiro: enfermidades diversas no Km 1; compras no exterior no Km 2; fofocas hediondas sobre as amigas mais magras no Km 3; plástica e botox no Km 4; e as últimas da revista Caras no Km 5. Aí elas param, porque preparo físico de perua só aparece quando elas estão num outlet dos Estados Unidos. 


2) Personal dogs – Não tenho nada contra o sujeito que quer ser personal trainer do próprio cachorro (se bem que, muitas vezes, o cão é que parece estar treinando o dono), desde que ele tome as seguintes providências: pit-bull e correlatas, só com focinheira, sendo que os donos dessas bestas pavorosas também poderiam usar o artefato; nada de deixar o bicho sacudir a baba e emporcalhar o nosso tênis novinho com aquela coisa pegajosa; e, por favor, nada de coleira estilo carretel, que obriga os infelizes corredores a combinar as habilidades de fundista e pulador de corda – se não quiserem cair de cara no chão. 

3) Escarradores – Já que falamos da baba canina, existe coisa pior do que aquele camarada que espirra gritando ‘Vasssssssssco!’, puxa o catarro das entranhas, regurgita o dito cujo, vira a cara… e larga uma grossa escarrada para trás, sem ver quem está vindo? Já tive que dar alguns saltos mortais para me livrar dos disparos desses infelizes. Tá encatarrado? Melhor ficar em casa. 

4) Corredores orgásmicos – Tudo bem que correr é uma delícia. Mas será que é tão bom assim? Será que precisa gemer e gritar tanto? Você vai correndo tranqüilamente pela pista até que, de repente: ‘Arrrrrrgh!’, ‘Unnnnnngh!’, ‘Arrrrrrrfff!’, ‘Aaaaaaaimeujesus!’. É assustador! E ainda tem aqueles gritos mais pornográficos: ‘Poooorracaraaaalho!’, ‘Aaaaiputaqueospariu!’, ‘Ahhhhputameeeerda!’, além de várias modalidades de gemidos eróticos. Eu hein… Será que o shortinho de corrida desses corredores tá tão cravado assim? 

5) Marombeiros – Esses são terríveis. Vivem na academia, se entupindo de bombas e puxando ferros. Têm fôlego de tuberculoso, mas, quando passam por você, fazem uma insuportável cara de superioridade – quando não dão uma piscadela e um sorrisinho triunfal. O que os trogloditas do açaí não sabem é que, muitas vezes, aquele magrelo que eles acabaram de ultrapassar está no 17º quilômetro de uma corrida de 20, enquanto eles estão nos primeiros 300 metros de sua corrida diária de… 800 metros. 

6) Mamãe, tô na Globo! – Como são malas os caras que nunca treinam e, quando chega o dia de uma prova importante, aparecem vestidos de Chapolín Colorado, de Barbie, de caravela, de exu caveira e ficam pulando na frente das câmeras, segurando faixas e cartazes e atrapalhando o desenrolar da corrida. 

7) Ciclistas – Desculpem, mas, assim como quem tem barco à vela detesta quem possui barco motorizado, os corredores não são muito amigos dos ciclistas. Primeiro porque eles passam ventando pelas nossas orelhas; depois porque nossa classe já sofreu incontáveis baixas por atropelamentos; e por último porque eles realmente se acham membros de uma elite – mesmo já tendo aprendido que, no triatlo, quem corre mais ganha mole de quem nada ou pedala melhor. Hehehe. Gostaram dessa, pedaladores? 

8) Torcedores sacanas – Quilômetro 18 de uma meia maratona, você estouradaço, tentando encontrar forças para as últimas ladeiras… e um palhaço grita: ‘Aê, mané, a queniana já chegou faz meia hora’. Pensamos em tacar o tênis, cheio de chulé, nas fuças do infeliz. Acha fácil? Vem correr. Mas a gente respira fundo e segue em frente. 

9) Ixpicialixtax – Não importa o esporte que você pratique. Haverá sempre um especialista de plantão, sem qualquer experiência no assunto, mas, ainda assim, disposto a te dar uma aulinha. Gente que pergunta quantos quilômetros tinha a maratona que você correu, apesar de ainda não ter sido inventada uma maratona diferente daquela da antiguidade, com 42 km e uns quebrados. Ou então que insiste em saber em que posição nós chegamos, como se fôssemos o Paul Tergat. ‘Logo atrás da sua mãe’, dá vontade de responder. 

10) Ladeiras – Não há como gostar delas. Ainda que tentar, como diz o amigo Alberto Banach, ajuda bastante. Correr bem nas ladeiras é algo invejável. Gostar delas, é grave desvio de caráter. Recomendo tratamento psicológico urgente aos que pensam assim. “

Publicado por

Haroldo Santos Filho

Advogado, contador, consultor de empresas, especialista em processo civil e direito tributário, mestre em administração, gosta de viagens, fotografia, cinema, corrida e tênis

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