“Malditos” gêmeos…

twinsLonge de mim fazer graça com o drama alheio, mas no caso da advogada brasileira Paula Oliveira, é muito difícil conseguirmos passar ao largo, sem ao menos especularmos as possíveis motivações que poderiam ter causado todo esse “samba suiço do crioulo doido”.

No início, era só mais uma brasileira, tentando a vida no exterior, inocente vítima de um odioso ataque xenofóbico. Três covardes neonazistas a cercaram e a subjugaram. De tão violento o episódio, além de lesões corporais superficiais por todo o corpo, de “efeito psicológico”, a moça também teria sofrido agressões físicas suficientes para que ela tivesse sofrido um terrível aborto, perdendo os “gêmeos” que esperava.

Foi o suficiente para entrar em ação o nosso nacionalismo adormecido e provocar as mais diversas reações de repulsa e justa condenação ao acontecido. Chegou-se a justificar o violento ataque, em função de estrangeiros estarem por lá, na terra do chocolate, “surrupiando” vagas de emprego de cidadãos suíços, legítimos herdeiros daquela economia, baseada substancialmente, em entrada de capitais estrangeiros, por lá ainda ser um porto seguro para investidores, pelo elevadíssimo grau de sigilo bancário e pela manutenção de um alto valor externo do franco suíço, no longo prazo.

Eu mesmo fiquei indignado. Por um acaso não escrevi sobre o assunto, mas falei (mal) à vontade dessa gente louca que agride inocentes por conta de uma futilidade qualquer. E nosso Presidente Lula, então!? Logo que soube, não se furtou a rechaçar aquele ato de repercussão internacional. Com aquele rosto suado, pego no meio de alguma solenidade em plena campanha pró-Dilma, tentou desmoralizar os suíços (…com aquela sutileza que Deus lhe deu…) e ainda disse que exigia que nossos brasileiros fossem respeitados lá, assim como eles eram respeitados aqui…..algo neste sentido. Pra falar a verdade, à sua maneira, ele fez certo. Afinal, aquilo havia mexido com nossos brios, além de termos perdido dois futuros brasileirinhos….

Mas, como diria a mãe de qualquer um, “nada como um dia atrás do outro”. Os acontecimentos foram tomando um outro rumo, a começar pela segura afirmação da polícia suíça de que, segundo os exames feitos na vítima, após os supostos ataques, constatou-se, sem a menor chance de erro, que a advogada não estava grávida de gêmeos. Aliás, que ela nem estava grávida! Pouco tempo depois, outro médico especialista, afirmou com todas as letras, que as marcas deixadas em seu corpo não poderiam ter sido produzidas por terceiros, dada a sua disposição e característica. Em outras palavras, as autoridades suíças, defenderam enfaticamente, desde o início, que a moça não estava grávida e, ainda, que teria cometido uma autolesão. Por outro lado, não havia nenhuma contra-prova de que ela estivesse, de fato, grávida.

Como numa intrigante trama “kafkaniana” as nossas convicções de então, foram sendo substituídas por vários questionamentos, principalmente, sobre o “porque” dessa moça ter feito essa merda toda que a teria transformado de vítima em uma repulsiva e mentirosa ré, em processo pelo crime de “falso testemunho” que, provavelmente, terá de responder na Suíça, enquanto passa a ter seu passaporte e seu direito de ir e vir, subordinados à vontade daquelas autoridades. Quando ainda estamos nos bancos acadêmicos, somos doutrinados a sempre nos questionar sobre qual motivo leva um agente a cometer um crime. É o que temos tentado fazer! Por que motivo ela teria inventado tudo? Por que ainda disse que estaria grávida? Por que se automutilou? Por que, a gravidez não poderia ter sido simples e, sim, de gêmeos? Por quê?!…

Todos esses “porquês” ainda provocavam desconfiança em muita gente sobre a verdade do episódio. Chegou-se a colocar em dúvida as assertivas das autoridades suíças. Para alguns, de nada valeram os exames científicos feitos e os relatórios médicos que atestavam toda a farsa. Nem que a brasileira não conseguia provar o que afirmava. Simplesmente, ainda acreditavam nela. Cheguei a ouvir: “…exame suíço? Que exame, rapaz, quando se quer, se fabrica tudo, até exame…”. Quando eu vejo pessoas querendo acreditar mais no improvável do que naquilo que nos parece mais óbvio, costumo chamar de “teoria da conspiração”….

Foi só quando alguém encontrou na internet (google) a foto idêntica daqueles gêmeos, no ultrassom, que a Paula havia enviado para vários amigos, anunciando sua gravidez é que a ficha terminou de cair. Aí sim, os poucos remanescentes que ainda acreditavam na tese da vítima, cairam de pau em cima da moça! O mundo todo pedindo que o Brasil reconsiderasse suas afirmativas contra a Suíça (…enquanto isso, Lula caladinho, caladinho, claro…rs). É triste, mas isso prova que as pessoas têm acreditado mais no poder de conectividade da internet do que em exames oficiais feitos por autoridades. Pode-se dizer, com isso, que se houve um erro cometido neste crime, foi o de usar o ultrassom daqueles gêmeos, disponível na rede mundial. Imperdoável, eu diria.

Não estranharei se, no desenrolar dos próximos acontecimentos, este seja classificado somente como mais um crime comum, cometido por uma das três motivações mais presentes no comportamento atípico humano, a saber: poder, dinheiro e homem/mulher. E se eu fosse arriscar a emitir mais alguma opinião sobre este crime, apesar da dúvida, eu diria que foi por dinheiro (imaginando que ela faria jus a alguma espécie de indenização pública). Mas, a esta altura, eu só não teria dúvida sobre uma coisa: desta vez, a culpa não foi do mordomo. Se a casa de fato caiu, como tudo faz crer, a culpa, certamente, deve ter sido daqueles exibidos gêmeos.

HSF

Publicado por

Haroldo Santos Filho

Advogado, contador, consultor de empresas, especialista em processo civil e direito tributário, mestre em administração, gosta de viagens, fotografia, cinema, corrida e tênis

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