Privilegiados, somos nós, Sr. vice-presidente!…

Poucas vezes lembro de ter me emocionado, verdadeiramente, diante das declarações ou das atitudes de algum político. Não por eu nutrir qualquer tipo de idéia pré-concebida de que políticos “mentem” ou “só querem se dar bem”, como volta e meia, ouve-se por aí. Não! Nem teria sentido, pois além de discordar desta “regra geral”, a minha convivência com políticos e até mesmo como político não me deixariam em posição confortável para assumir tal postura, tão alicerçada no “lugar-comum”.

Mas, defendo com a mais absoluta convicção, de que na maioria dos casos, os políticos, por força de seu ofício, precisam apresentar verdades circunstanciais ou, em outra hipótese, precisam “confundir” seus observadores, enquanto planeja, intimamente, exatamente aquilo que quer. Em linguagem mais popular, como já ouvi, algumas vezes, da boca do próprio Governador Paulo Hartung, deve-se fazer como cavalo da roça, que vira a cabeça para a esquerda, mas faz a curva para a direita.

Entretanto, em um determinado momento, único, os políticos conseguem marcar e emocionar, de verdade, o seu público. É quando se deixam ser humanos, como nós. É quando se vêem diante de uma situação que nada combina com acordos, “canetadas”, apertos de mãos, trocas de favores ou qualquer outra prática tão comum em suas vidas profissionais. É quando se vêem diante de uma grave doença ou da própria morte, por exemplo.

Lembro-me de momentos, assim, sublimes, por exemplo, como aqueles produzidos pelo Senador Mário Covas, em franca luta pela sobrevivência, diante de uma doença que o tirou de nosso meio. Ao demonstrar para todo o Brasil, chorando, o quanto temia aquele momento, apresentou-se um homem ainda maior e mais forte do que aquele que, contrariando os conselhos de sua segurança pessoal, atravessou uma praça e enfrentou com bravura um exército de camelôs enlouquecidos.

Hoje, aquele nó na minha garganta voltou a se apresentar. Após uma longa internação, no Hospital Sírio Libanês, o nosso vice-presidente da República, José Alencar, de 77 anos, deu uma breve entrevista, ao receber alta. Foi quando o ser humano, mais uma vez, tomou conta do político. Com muita humildade, disse que não se considerava “corajoso”, uma vez que não se tratava disso e, sim, de não se ter opção. Como fez questão de frisar: “…onde está a coragem de um cidadão que não tinha outra alternativa? Não tinha outra opção. Era o vai ou vai“.

Mais adiante, foi honesto para questionar um velho tabú, mesmo sem se afastar em nenhum momento de sua inabalável fé, quando disse não ter medo de morrer. E, complementou: “…até porque não sei o que é a morte. Pode ser algo melhor ou pior…”. E finalizou a sua lição de vida, muito emocionado, dizendo que não queria que Deus lhe concedesse nem um dia a mais em sua vida, se este dia não pudesse ser objeto de orgulho. Bravo!

Para não dizer que Alencar não falou de “política”, desta feita, ele conseguiu deixar os “juros” em paz (…alegou que já tinha muita gente falando disso…) e tocou na ferida que é a saúde pública no Brasil. Disse que, às vezes, tinha até um certo sentimento de culpa, ao constatar que a maior parte dos brasileiros não teria um tratamento semelhante àquele que teve, por ser vice-presidente. Se tivessem, certamente teriam uma consideravelmente maior expectativa de vida, argumentou sabiamente. Se considerou um privilegiado, portanto, por ter tido a oportunidade de se tratar de forma adequada, como gostaria que fosse com todos. É….pode ser…!…

Mas, nós também somos privilegiados, senhor vice-presidente. De outra forma, o que seria senão um privilégio, termos o senhor, como um dos mais influentes dirigentes de nossa nação? E a se cumprir, seu profético desejo, quase que como um recado dirigido a Deus, nós ainda o teremos durante muitos e muitos dias ao nosso lado. Posso assegurar que serão todos esses dias, sem exceção, objeto de nosso mais profundo orgulho.

Publicado por

Haroldo Santos Filho

Advogado, contador, consultor de empresas, especialista em processo civil e direito tributário, mestre em administração, gosta de viagens, fotografia, cinema, corrida e tênis

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