Casagrande ganhou perdendo? (Joca Simonetti)

O ex-governador Paulo Hartung deu fama às expressões “ganhar perdendo” e “perder ganhando” nas análises do cenário político do Espírito Santo. A primeira parece ter sido talhada para ilustrar a situação do deputado Luciano Rezende após a derrota na eleição para prefeito de Vitória, em 2008, quando foi traído pelo esdruxulo apoio do então vice-governador Ricardo Ferraço ao seu adversário, João Coser. À época, Ricardo estava no PSDB, partido da coligação que apoiava Luciano.

Acontece que Luciano, após o pleito, foi ser secretário estadual de esportes, vitrine para catapultar sua candidatura a deputado. Curioso é que, sendo secretário, Luciano tornou-se subordinado do mesmo Ricardo Ferraço que contribuíra para sua derrota.

A frase do ex-governador é de 2008, mas “ganhar perdendo” também pode ilustrar a situação de outro candidato derrotado na eleição para prefeito de Vitória. Quando César Colnago perdeu a eleição em 2004, após ser desidratado no período pré-eleitoral pelo grupo do então governador Paulo Hartung que desejava impor uma chapa de consenso, tornou-se presidente da Assembleia em 2005.

E quem “perdeu ganhando”? Em 2008, parece ter sido mesmo João Coser, que saiu da eleição menor do que entrou, e ficou amarrado ao apoio de Paulo Hartung para tocar o segundo mandato – que aliás está terminando ainda mais medíocre que o primeiro, mas isso é outra história.

No cenário político atual, quem parece ter perdido ganhando é o governador Renato Casagrande.

No início de 2010, Renato Casagrande venceria a eleição para o governo sem o apoio de Paulo Hartung. Essa era minha opinião na época e segue sendo hoje. Naquele momento, Ricardo Ferraço que, mesmo com o empurrão da máquina do governo patinava sem conseguir estabelecer uma vantagem decisiva, precisava vencer no primeiro turno, porque não teria o apoio de nenhum outro candidato no segundo. Casagrande estava crescendo nas intenções de voto capitaneando um coro de descontentes, excluídos da “unanimidade bonapartista” que o governador construíra em torno de si, e estava nos calcanhares de Ricardo. Luiz Paulo e Brice completavam o quadro, com potencial não para vencer a eleição, mas para provocar o segundo turno.

Mas veio o “abril sangrento” e Paulo Hartung deixou Ferraço com o prêmio de consolação da votação recorde para o senado, e recompôs a unanimidade em torno do nome de Renato Casagrande e tendo o próprio Paulo Hartung como centro gravitacional de poder.

E foi assim que o governador Casagrande “ganhou perdendo”, e começou um mandato fraco, sem condições de impôr sua agenda e refém de forças políticas controladas poer seu antecessor: estão aí as dificuldades na relação com a Assembleia para todo mundo ver.O ano de 2012 será, na minha opinião, a hora da verdade para o PSB – mas essa história fica para quarta-feira

Link original: aqui.

 

Napoleão de hospício, dez anos depois…

As eleições de 2002 realmente foram muito especiais para mim. Foi nesta época que pude vivenciar uma das mais ricas, intrigantes e inusitadas experiências de minha vida. Eu me vi candidato numa eleição majoritária (governo do estado), terminantemente, polarizada entre dois fortíssimos candidatos (Paulo Hartung e Max Mauro), além de outros cinco, popularmente conhecidos como “japoneses”, por apresentarem prognósticos de potencial eleitoral igualmente baixos (…eu era um deles…rs).

A nossa democracia, embora já tenha passado pela puberdade, ainda permite à grande maioria esquecer de seus candidatos ou mesmo de suas “promessas” passados 6 meses do pleito, às vezes, até menos. Muitas vezes essa amnésia antidemocrática ocorre também comigo, em que pese o meu grande interesse pela política. Mas, 2002 foi diferente!

Lembro de tudo pelo qual passei naquelas “andanças” em busca de voto, ou melhor, em busca da manutenção da minha imagem, como alguém que deveria ter o direito de viabilizar uma candidatura “inglória”, mas legítima.

Muita coisa aconteceu nestes 10 anos. Consolidei convicções, mudei outras. Fiquei mais paciente para algumas coisas e muito mais impaciente para outras. Perdi alguns amigos e ganhei outros. Claro, que me arrependi de algumas ações, mas me orgulhei de outras. Estes 10 anos foram tempo suficiente para termos a certeza de nossa falibilidade, para conhecermos nossas qualidades e aprendermos a conviver com nossos defeitos.

Voltando ao pleito de 2002, penso que talvez, hoje, eu não aceitasse outro encargo tão pesado. Mas, se eu assim o fizesse, o que certamente não mudaria seria a exigência de tentar levar adiante a candidatura, pedindo voto como de fato foi feito. Afinal, era este o acordo feito com o presidente do PFL, José Carlos da Fonseca Junior (“Zé Carlinhos”): uma candidatura institucional, mas que eu poderia pedir votos. Ora, se pela conjuntura de coligação partidária, nosso candidato do governo era Paulo Hartung, nada mais natural do que enfrentar esta “pedreira”, em nome de um projeto político, tido como maior e melhor para nosso Estado.

O plano, porém, não deu certo! Com pouco mais de uma semana de programa de TV, vem uma “ordem” para que eu saísse do ar, porque, “segundo pesquisas”, eu não estava tirando votos de Max mas, sim, de Paulo e o que para eles era pior, crescendo sem parar. Foi quando saiu o diálogo e entrou a truculência. Sob sério risco de um segundo turno, eu precisava ser calado, não interessava o custo. Pelo visto, não importava nem mesmo se o preço fosse a própria candidatura a Deputado Federal de “Zé Carlinhos”,  como de fato, pareceu ter sido.

Mas, eu simplesmente não concordei com a ruptura unilateral, SEM DIÁLOGOS, de um acordo feito, de um contrato. Para o ex-governador Paulo Hartung, talvez eu tenha sido um traidor, pois mantive a todo custo a minha candidatura, ainda que usando de medidas judiciais de urgência que nos mantiveram vivos. É engraçado quando se está sob o outro ângulo de um mesmo acontecimento. Nesta outra ótica, é evidente que o traído fui eu. Como diria Machado de Assis, o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão…

Não assumi os riscos de levar adiante o que iniciei pelo fato de acreditar que ganharia. Claro e evidente que não! Mas, sempre acreditei que conseguiria levar adiante a missão para a qual fui “convocado”. E, embora quem a tivesse “convocado” já não estivesse mais fazendo questão que eu a cumprisse, não mais importava. A missão já havia ganho vida própria. Bastava um sujeito teimoso para levá-la adiante. Na verdade, bastou o “napoleão de hospício”.

É….isso tudo eu faria de novo!

HSF

PS: Abaixo faço o resgate do excelente artigo do amigo André Hees (A GAZETA), com a hilária ilustração do também competente e amigo, Amarildo.

 

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‘Napoleão de hospício’?

A Executiva Regional do PFL pretende implodir a candidatura de Haroldo Santos Filho ao Governo do Estado. Já há algum tempo o candidato está em rota de colisão com o presidente do partido, o deputado José Carlos da Fonseca Júnior. E com a renúncia do vice de Haroldo, Rogério Figueiredo, a chapa pode se tornar nula. Ontem, o vice reiterou, no Tribunal Regional Eleitoral, o pedido de desistência, com os dados complementares exigidos pelo relator da matéria. No pano de fundo dessa questão está a tentativa de garantir o segundo turno na disputa pelo Palácio Anchieta.

Profissionais que atuam no âmbito do TRE asseguram que há risco concreto de Haroldo ter a sua candidatura anulada. Pela legislação eleitoral, somente o partido pode indicar o vice. E o PFL deixa claro que não pretende indicar um substituto para Rogério Figueiredo, que renunciou argumentando discordar dos rumos tomados pelo titular da chapa.

Haroldo e Fonseca se desentenderam por causa do uso do horário eleitoral na TV e pela forma de conduzir a campanha. Para Fonseca, que apóia o senador Paulo Hartung (PSB), Haroldo deveria cumprir mais o papel institucional, levantando a bandeira do partido para futuros pleitos. Depois do rompimento, o candidato alinhou-se à ala do PFL ligada à Presidência da Assembléia Legislativa, que está no campo oposto ao do presidente do PFL.

Fonseca Júnior acha que a possibilidade de Haroldo levar a disputa para o segundo turno é coisa de “Napoleão de hospício”. “É capaz de ele ter menos votos que Sônia Santos (PCO)”, diz o deputado. Mas pode não ser tão simples.

A última pesquisa do Ibope mostrava que, há uma semana, a diferença entre Hartung e os demais candidatos juntos era de 10 pontos. Haroldo, depois de um tempo fora da TV devido aos conflitos partidários, estava com 1%. Estimam os seus colaboradores, porém, que ele pode chegar a 5% ou 6%.

Considerando a margem de erro e uma possível variação nas intenções de voto de Hartung e do deputado Max Mauro (PTB), a presença de um candidato a mais, mesmo que na lanterna, pode fazer a diferença. Se é tolice ou não, o fato é que há aliados de Hartung preocupados com a possibilidade de um segundo turno.

Avaliam esses aliados que lideranças ligadas à Assembléia e ao Palácio Anchieta perderam força no processo eleitoral ao ficar sem palanque. Num eventual segundo turno, com os novos deputados estaduais eleitos, os que hoje estão enfraquecidos podem voltar ao primeiro plano na articulação política estadual.

Para outros, como o próprio Haroldo, um segundo turno garantiria uma disputa “mais democrática”. Ele diz que recorrerá à Justiça para manter a sua candidatura, se necessário. Mas ironicamente, o segundo turno interessa hoje a uma parte da oposição e também à situação.

André Hees – Coluna Praça Oito – Jornal A Gazeta – 27 de setembro de 2002″

10 motivos para se ficar bem longe da política

O meu interesse pela política começou sem eu bem saber quando. Não lembro o que ou quem desencadeou o meu envolvimento com a política, mas sei que em um determinado momento, fui substituindo minha despretensiosa leitura juvenil por livros de conteúdos mais densos, cujas mensagens, talvez eu ainda nem as tenha assimilado por completo. Foram inesquecíveis passeios pelas obras de Marx, Maquiavel, Platão, Bobbio, Hobbes, Comte, dentre tantos outros.

Ocorre que, como quase tudo na vida, existe um abismo entre a teoria e a prática. Uma coisa é a teoria política e a ciência política e outra absurdamente diferente é a política na prática, tal qual nós, brasileiros, a conhecemos (..ou pensamos que conhecemos…). É quando a máxima atribuída a Otto Von Bismarck dizendo que a “política é a arte do possível” ganha nova dimensão, novo significado. Ora, nós crescemos aprendendo que, na vida, nem tudo é possível! Mas, surpreendemente, na política, basta um toque de arte e um dedo de prosa para que o impossível se torne possível. Para os menos incautos este “fenômeno” já deveria, por si só, ser um indício de que algo talvez não cheire tão bem neste ambiente…

Embora eu não esteja, atualmente, envolvido diretamente com política, vez ou outra me pego pensando a estratégia política adotada pelo político “A” ou “B” e o que eu faria se estivesse no lugar dele. Fazer política assim, como num videogame, ainda vá lá, mas entrar de verdade no jogo é algo que custa muito caro (…não falo só de dinheiro aqui não…rs). Quem se envolve com a política, poderá ter alegrias, claro, mas é certo que terá muitos, mas muitos aborrecimentos. Mas, não tem jeito, gosto não se discute e eu devo confessar que mesmo conhecendo a política por dentro, mesmo tendo convivido de perto com as suas mais infames e repugnantes características, gosto de política. Fazer o quê?! É mais forte do que a minha razão…

O perigo é quando a pessoa idealiza a política como algo glamoroso ou mesmo pensa que gosta da política mas, na verdade, gosta mesmo é de poder. Nestes casos, eu aconselharia que estas pessoas procurassem, veementemente, outras formas de glamour ou de poder (…são tantas!…) e fugisse com todas as suas forças da política, sob pena de ser muito infeliz e frustrada dentro deste tão atípico meio que, via de regra, seleciona as pessoas pela sua própria incapacidade de resistir às suas mais diversas provações.

Para facilitar a vida de quem ainda não decidiu se entra ou não na política, resolvi fazer uma lista de motivos (acredite, são reais!) para que você não caia de paraquedas no ambiente hostil da política, sem ter a mais absoluta certeza do que está fazendo. Quero deixar claro que não se trata, absolutamente, de um desestímulo à entrada de pessoas na política. A política sempre precisará de pessoas bem-intencionadas, afinal de contas, alguém precisa fazer este trabalho que é tão importante para a manutenção da ordem social e do estado de direito democrático, não é verdade!? Então, pelo menos, que sejam políticos vocacionados para aquilo que os espera.

MOTIVOS PARA VOCÊ SE MANTER LONGE DA POLÍTICA

(se for o caso)

1) DINHEIRO

Você acha que vai ganhar dinheiro com a política? Esquece!… Eu digo sempre, ironizando a célebre frase do Bismarck, que a “política é a arte de se administrar a escassez“. No meio político, costuma faltar tudo! Falta gente bem intencionada, falta tempo, faltam projetos sérios, faltam votos, faltam cargos, falta conhecimento, falta educação, falta sinceridade/honestidade, falta formação, falta bom senso, faltam bons salários, falta tranquilidade e falta inclusive o próprio dinheiro. E é exatamente neste meio que se pretende ganhar dinheiro?!…rs

É claro que, infelizmente, há políticos que conseguem ganhar dinheiro, aumentar vertiginosamente seu patrimônio, mas neste caso, com raras exceções, o que o fez ganhar dinheiro foram seus “negócios” relacionados à política. Negócios escusos e tipificados como crimes como tráfego de influência, uso de informação privilegiada, dentre tantas outras falcatruas das quais temos notícia em nosso dia a dia.

Mas, se no seu caso você não quer se expor desta maneira, nem tampouco cometer tais crimes, lamento informar que na política, de forma honesta e legal, você NÃO vai conseguir ganhar dinheiro. É bem mais provável que você perca tudo que acumulou, antes de decidir se aventurar na política.

Ultimamente, tem sido comum os políticos abrirem empresas de “consultoria” depois que acabam seus mandatos e eles se vêem na famigerada e inóspita “planície”. Pode até parecer uma forma legal de ganhar a vida depois da atividade política, não é mesmo!? Mas, só parece! Eu pergunto: você contrataria, por uma fortuna, um “consultor” que a vida inteira a única coisa que fez foi política? E o pior é que tá cheio de gente contratando estes “serviços” altamente qualificados, por aí….rs. Existe uma tese (é só uma tese e NÃO é minha!!!…) de que estas “consultorias” poderiam bem ser uma forma de se “lavar dinheiro” obtido ilegalmente durante os mandatos ou durante a ocupação de cargo público. Seria, mais ou menos assim: Acaba o mandato e o ex-político começa a aparecer com a grana que “ganhou” durante sua vida pregressa. Sob o título de “serviço de consultoria”, paga uns 15% de tributos e……..voilà……dinheiro limpinho, legalizado, na conta-corrente e o no Imposto de Renda…..A tese até que é boa, mas será?!…..rsrsrs

Bom, ainda bem que para quem realmente gosta de política, dinheiro não é tudo!

2) IMAGEM

Não vou falar nenhuma novidade, mas a imagem que os políticos têm, para a opinião pública, é a pior possível. Políticos possuem a imagem queimada em quase todo o mundo e, no Brasil, isso não é diferente.

Já vi, muitas vezes, o noticiário do horário nobre, apresentar uma matéria mais agressiva no caso de uma mudança de partido feita por um político, tornando emblemática a sua infidelidade partidária do que no caso de um cruel estuprador de menores indefesas. No mínimo se deduz que, para a mídia, bater em político da mais audiência do que bater em estuprador.

Portanto, se pretende se tornar um político, saiba que muitos vão torcer o nariz quando você entrar no recinto. Com exceção dos inúmeros puxa-sacos que você vai encontrar na política ou mesmo com exceção daqueles que possuem interesses pessoais e/ou financeiros em sua posição política, boa parte dos demais não fará a menor questão de apertar a sua mão. Alguns, inclusive, farão de tudo para nem serem vistos a seu lado. Eu sei que esta é uma dura realidade para quem gosta de política, mas a vida é assim….rs

Nestas horas eu me permito lembrar da piadinha daquele famoso aluno endiabrado, Joãozinho:

A professora pergunta na sala de aula: 
– Pedrinho qual a profissão de seu pai?
– Advogado, professora. 
– E a do seu pai, Marianinha? 
– Engenheiro. 
– E o seu, Aninha? 
– Ele é médico
-E o seu pai, Joãozinho, o que faz?
-Ele… Ele é dançarino numa boate gay!
– Como assim? (pergunta a professora, surpresa) 
– Fessora, ele dança na boate vestido de mulher, com uma tanguinha  minúscula de lantejoulas ; os homens passam a mão nele e poem dinheiro no  elástico da tanguinha e depois saem para fazer programa com ele. 
A professora rapidamente dispensou toda a classe, menos Joãozinho
Ela caminha até o garoto e novamente pergunta:
– Menino, o seu pai realmente faz isso?
– Não, fessora. Agora que a sala tá vazia, eu posso falar : 
Ele é Deputado Federal….. Mas dá uma vergonha falar isso na frente dos  outros !!!

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, imagem não é tudo!

3) FAMÍLIA

Em raras exceções ou quando a relação familiar se confunde com uma simbiose de interesses políticos, a família, esta instituição milenar, dificilmente resiste à injusta concorrência exercida pela política.

Normalmente, as relações familiares de políticos, são extremamente superficiais, isso quando não são mantidas somente para se construir falsas aparências. Mas, esta mazela não é “privilégio” dos políticos. Acredito que a família de qualquer um que precise se dedicar quase que exclusivamente (tal qual um escravo!) a uma única e determinada atividade verá, mais cedo ou mais tarde, a sua família agonizante.

É triste! Mas, é muito difícil um político ter seus momentos íntimos, sozinho e descompromissado com seus entes queridos. Muitas vezes, ele não vê seus filhos crescerem, não sabem a comida que eles mais gostam, não sabem em que ano estão na escola, não sabem quem são seus melhores amigos, na verdade, às vezes, nem sequer conhecem, mais a fundo, os seres humanos que se tornaram seus filhos.

E quando se dão conta do que perderam, em termos familiares, já é muito tarde para o conserto e a família está destruída. Afinal, dificilmente, poderia ter sido diferente. Não há mesmo tempo suficiente para a mínima dedicação à família, diante de tanta necessidade de se angariar votos, participar de negociações e reuniões, inaugurações das  mais penosas e chatas  e mais um tanto de coisas que um político precisa fazer para se manter na crista da onda. Da muito, mas muito trabalho mesmo!! Trata-se de um altíssimo preço, não é verdade!?

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, família não é tudo!

4) RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Como assim, reconhecimento profissional!? Na política as pessoas, normalmente, são valorizadas e/ou “reconhecidas” pela sua capacidade de gerar votos (direta ou indiretamente). Para sermos bem simplórios, a moeda que interessa chama-se VOTO.

Salvo exceções, seu reconhecimento existirá na medida exata de sua utilidade. Na verdade, tenho até as minhas dúvidas se não ocorre exatamente isso também em outras áreas do relacionamento humano que não sejam a política. Acho que este jogo de interesse, em menor ou maior escala, funciona em todo lugar.

Assim, “companheiro e companheira”, se algum político colocou a mão sobre o seu ombro ou o levou para algum partido, tenha certeza de que não é pela sua qualificação profissional, nem pelos seus lindos olhos castanhos mas, naturalmente, será em função dos votos que você poderá agregar ao grupo político ou mesmo a ele.

De mais a mais, acredito cegamente na tese de que é IMPOSSÍVEL alguém conseguir ser um autêntico político e conciliar qualquer outra atividade profissional. Se alguém afirmar isso, sou capaz de dizer que das duas uma: ou está mentindo ou está se enganando, pois o seu desempenho como político ou como profissional há de estar comprometido.

Claro que existem exceções, mas não deveriam ser elas a pautarem as nossas decisões. Tente lembrar de algum profissional ou empresário de destaque e bem sucedido que tenha entrado para a política (não me refiro a quem já estava aposentado ou que tenha largado a profissão…rs). Tenho certeza de que você terá MUITA dificuldade para lembrar de um nome. Sabe por quê? Porque estes exemplos raramente acontecem. Simplesmente porque é quase IMPOSSÍVEL conciliar de forma séria e responsável a atividade político-partidária e eletiva com qualquer outra atividade econômica.

Por fim, uma dúvida: se você precisasse de um bom cirurgião ou um bom advogado, para tratarem de uma questão vital, você contrataria um que tivesse mandato ou que ocupasse um cargo de Secretário?

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, reconhecimento profissional não é tudo!

5) AMIZADE

É possível você fazer amigos, de verdade, na política. Mas, é improvável!

As “amizades” costumam perdurar enquanto os interesses forem similares e os projetos políticos não forem mutuamente excludentes. Quando isso não ocorre, as amizades costumam acabar.

Outro ponto que atrapalha muito nas relações dentro da política é que, normalmente, se mente descaradamente e durante quase todo o tempo. Para quem ainda não havia percebido, POLÍTICO MENTE! Mente com todas as forças, pois do contrário, teria suas chances de sobrevivência política muito prejudicadas.

Na política, o certo é que você passe a ter correligionários, parceiros, aliados, chefes mas, amigos, acho muito difícil! Mas, se você conseguir ter esta rede que acabei citar, para quê se preocupar com amigos, não é verdade!? Sua eleição já está quase garantida….rs…

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, amizade não é tudo!

6) STATUS

O status proporcionado pela política é algo duvidoso. Se existe, é para muito poucos.

Fazendo uma analogia com o futebol, se me permitem copiar o insigne professor Lula, imagine o jogador Ronaldinho Gaúcho, no auge de sua carreira profissional. Só andava de Ferrari, frequentava os melhores restaurantes e casas noturnas, apertava a mão de políticos e artistas famosos e tudo o mais que se pode esperar de alguém com seu status. Agora imagine o “Deividyshon” (fictício, claro!), lateral direita no início de carreira, do Parnahyba, time do interior do Piauí. Ganha um salário mínimo por mês, só anda de bicicleta e a maior extravagância que já fez com o seu dinheiro foi pedir duas coxinhas e uma fanta no boteco da esquina. O pior é que existe uma forte probabilidade do pobre “Deividyshon” não conseguir ascender na carreira. Agora, sabendo que existe um Ronaldinho, eu pergunto: quantos “Deividyshon´s” existem no futebol brasileiro?

Assim é na política! Você até poderá chegar a ter algum status, mas vai ter de comer muita terra até chegar lá. O melhor mesmo é considerar que não haverá nenhum status nesta atividade política e seguir em frente. Assim, você evita decepções e não cria empecilhos para o seu sonho de ser representante do povo.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, status não é tudo!

7) LIBERDADE

Na política se tem nenhuma ou muito pouca liberdade. Os interesses dos grupos políticos que tiverem contribuído, direta ou indiretamente, para a eleição do político ou para a sua ocupação de cargo público, é que ditarão a sua forma de agir, de se manifestar e de conduzir os trabalhos (às vezes até querem influir na sua forma de pensar…rs). E se você se rebelar, depois de eleito ou nomeado, fazendo aquilo que bem entender, ao arrepio da vontade do grupo político a que “pertence” (ou a que deveria pertencer), fique certo de que suas horas estarão contadas. Você será rifado, mais cedo ou mais tarde. Esta é a regra! Todo dia aparece um caso semelhante a este na mídia.

Para se ter uma ideia da falta de liberdade na política basta analisar o GIGANTESCO quadro de cargos em comissão de algum executivo, por exemplo, do governo estadual capixaba. Pode parecer incrível, mas cada um daqueles cargos comissionados possuem uma ligação com algum grupo político que o indicou e que o mantém. Ninguém está lá de graça! A teia de influência é minuciosa. Até mesmo o mais simplório atendente de uma repartição pública, comissionado, terá de se submeter à vontade de seus “padrinhos”. Imagine um diretor de autarquia, secretário ou subsecretário de estado? Preciso falar mais alguma coisa? É esta a “tal liberdade”…..!?….

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, liberdade não é tudo!

8) SEGURANÇA

Se você for eleito por 4 anos, pode-se dizer que você terá segurança ou estabilidade pelos 4 anos.  A não ser que, em seu mandato, você faça bobagens homéricas e se indisponha com tudo e com todos à sua volta, você ainda corre o risco de ter o mandato ameaçado em um processo por falta de decoro ou eu alguma “armação” feita para a sua queda. No melhor cenário, você só não consegue se reeleger, mas dentro dos 4 anos, pode-se considerar  de certa forma seguro.

Fora isso, a segurança é tão somente uma ficção. Simplesmente, não existe! Alguém com mais poder do que você (todo mundo, um dia, encontra alguém com mais poder) de uma hora para a outra e a serviço de um plano maior, do qual muitas vezes você não faz parte, decide que você não serve mais para aquela função e, se você tiver sorte, lhe oferece uma outra função com um salário 3 vezes menor. É pegar ou largar! É assim que funciona! Definitivamente, você não vai encontrar nenhuma segurança no meio político.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, segurança não é tudo!

9) QUALIDADE DE VIDA

Normalmente, na política, não se tem hora para nada! Toda hora é hora para se fazer política, pedir votos e ouvir o clamor do povo, ainda que você não faça a menor ideia de como poderia ajudá-lo. Dia de semana, sábado, domingo e feriado, você político, precisa aparecer, ser visto e fazer contatos. Tempo é voto e voto é o que interessa!

Sabe aquela inauguração do projeto de reconstrução daquele meio-fio do interior do menor município de seu Estado? Pois é! É bem capaz de você precisar comparecer para ouvir aqueles “belíssimos” discursos e ficar por conta disso, todo o seu domingo. Mas, afinal você iria ficar com a sua família no domingo não é mesmo!? Para quê? Bobagem…rs

Se você não consegue ser completamente dono de sua agenda e se os eventos não respeitam qualquer regra, podendo ocorrer a qualquer tempo, como é possível manter uma qualidade de vida, com a convivência em família, prática de esportes, de estudos, de lazer, etc? Então, esqueça também a qualidade de vida.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, qualidade de vida não é tudo!

10) LEALDADE

Em todas as atividades em que se tenha o envolvimento do ser humano, vamos ter o risco de encontrar pessoas desonestas e/ou desleais. Assim também ocorre com a política.

Todavia, um olhar mais detido, mais cuidadoso (…ou tendencioso…) pode nos dar conta de que, talvez, na política, dadas as circunstâncias de se estar quase sempre sob pressão, pode parecer que haja uma concentração maior de “deslealdade” do que se poderia esperar de um ambiente normal, como o ambiente corporativo, por exemplo.

Embora eu não tenha certeza sobre esta assertiva, aconselharia àqueles que pretendem fazer parte, em algum momento, do meio político que não decida com base na expectativa de que estaria entrando no ambiente de maior lealdade do mundo. Talvez, fosse até melhor pensar o contrário, assim, evitaria decepções e/ou desacertos.

Tive a oportunidade de conhecer políticos leais que cumpriram, à risca, o prometido ou o combinado. Mas, isso foi minoria absoluta. A maioria mudou o pensamento ou a atitude no meio do jogo. E, como ocorre no direito civil, a parte que descumpre um acordo/contrato desobriga a outra parte, imediatamente, de suas respectivas obrigações. Foi o que fiz, todas as vezes que me senti traído e enganado. Talvez por isso, nunca tenha dado a sorte (ou azar?!…rs…) de criar raízes em nenhum grupo político, quando militei.

Mas, ainda bem que para quem realmente gosta de política, lealdade não é tudo!

 

Espero ter podido abordar de forma descortinada alguns temas polêmicos que envolvem o exercício prático da vida pública. Estas impressões, por natural, podem não ser totalmente verdadeiras para todas as pessoas, em função de que as experiências vividas são, em regra, diferentes umas das outras. Mas, no geral, é bem provável que tudo que foi aqui comentado sirva para a maioria dos casos, restando ao interessado, descobrir por si só, se estaria diante de algo realmente diferente.

Confiar e ser confiado, na política, é muito difícil. Ainda assim, é possível.

Mesmo parecendo uma exposição de alguém pessimista quanto à política, de forma “lato“, acredito piamente na possibilidade de termos, num futuro breve, políticos mais comprometidos com as suas reais e constitucionais missões. Políticos que não precisem se esconder em função da desgastada imagem construída em torno da função pública.

A política precisa, como nunca, de pessoas que estejam dispostas a encará-la como um sacerdócio franciscano. No início, será uma doação, sem que nada se espere em troca. Uma luta inglória, para enfrentar todos estes itens acima mencionados.

Se você tem estômago para tudo isso e um espírito altruísta e de cooperação pública, a política e o Brasil precisam de você! Não hesite! Filie-se a um partido político e comece a trabalhar.

E VIVA A DEMOCRACIA!

HSF

Leia também: Política para quem precisa de política.