Uma luta permanente

 

A mais contundente iniciativa em favor dos direitos humanos se deu em dezembro de 1948, motivada pelos horrores do holocausto, na segunda grande guerra mundial e pelo nefasto acúmulo de desrespeitos à dignidade da pessoa humana até então observados no mundo daquela época.

Nascia um instrumento de 30 artigos, traduzido para mais de 360 línguas, a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, cujo primeiro comando nos lembra aquilo que, aparentemente, deveria ser óbvio: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”.

Mas, no aniversário dos 63 anos deste marco histórico, é impossível ignorar o fato de que, atualmente, uma infinidade de pessoas ainda não pode expressar a sua fé, emitir livremente suas opiniões. Milhões de pessoas morrem por doenças banais, sofrem tortura, constrangimentos pela cor de sua pele ou pela sua orientação sexual. Opressões e injustiças de toda natureza, não passam despercebidas neste mundo globalizado. Nesta noite mesmo, milhões de crianças dormirão com fome e sem um abrigo digno.

Por exemplo, no Brasil, boa parte da população é privada de educação, cultura, saúde e informação. No Espírito Santo, talvez ainda existam pessoas trabalhando sob o regime de escravidão. Muitos condenados que até pouco tempo eram enjaulados nas vergonhosas prisões “microondas”, hoje, provavelmente, cumprem indevidamente uma pena que já foi paga à sociedade.

É de se perguntar, então, o que se deve comemorar? Ainda que os progressos práticos pudessem ter sido maiores, o grande motivo de comemoração foi a conquista da consciência dos “Direitos Humanos” como ideário a ser alcançado pelos habitantes deste planeta.

Não se trata, porém, de uma tarefa simples. Bem ao contrário, a luta em favor dos direitos dos cidadãos deve ser permanente e deve contar com o apoio integrado dos entes públicos, privados e de toda a sociedade organizada. Em nosso cotidiano, bem ao nosso lado, certamente, encontraremos algum exemplo de desumanidade que nos exigirá um esforço único para combatê-lo. É, sim, nossa responsabilidade melhorar o mundo em que vivemos, sob pena de continuarmos protagonizando avanços medíocres, neste segmento.

Neste aspecto, merece destaque a corajosa atuação da Ordem dos Advogados do Brasil em prol do combate incansável às injustiças sociais em nosso país. A rigor, se não existe justiça sem o advogado, como poderíamos imaginar respeito aos Direitos Humanos sem a sua imprescindível e constitucional atuação? Para tanto, deve o advogado travar suas lutas pessoais em favor do mais absoluto respeito às suas prerrogativas, costumeiramente vilipendiadas, sem as quais, se vê limitado em sua nobre função.

Aliás, o advogado e ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, um dos maiores ícones da luta pelos Direitos Humanos no mundo, retrata de forma precisa a dimensão de nossa missão quando diz …. “Não há caminho fácil para a Liberdade.”

HSF

Artigo publicado no jornal “A Gazeta”, em 16 de dezembro de 2011. Link original: aqui.

Feliz aniversário, Madiba!!

Uma de minhas leituras preferidas é a biografia. Lendo a história de vida de grandes personagens ou heróis tento achar algum indício de que realmente estas pessoas eram “normais”, como eu ou você.

Procuro atestar que cometiam erros, que tinham de enfrentar seus medos e suas inseguranças e que o que as diferenciava, realmente, eram “apenas” as suas convicções e sua obstinação em alcancar seus objetivos. Assim, mantenho minhas chances (ainda que remotas) de algum dia, ser capaz de poder fazer algo útil à humanidade…

Mas, nem sempre é fácil me convencer de que não se tratam de pessoas muito especiais (diferentes para melhor!). Um bom exemplo disso é quando analiso a história de vida de Nelson Mandela que, hoje, completa 92 anos. Um dos maiores líderes do movimento anti-apartheid, foi preso político do governo opressor, durante 27 longos anos.

Quando foi libertado, em 11 de fevereiro de 1990, continuou liderando seu povo até se tornar Presidente da África do Sul. Em nenhum momento, nutriu qualquer tipo de sentimento negativo contra aqueles que o subjugaram no passado. Bem ao contrário, repudiava o ódio aos brancos (social e economicamente dominantes no passado próximo), toda vez que percebia sentimentos de vingança por partes de seus seguidores.

Algumas de suas mais profundas convicções se evidenciaram quando ele retornou, em visita, à cela em que ficou preso por quase três décadas (Paulo Coelho´s Blog):

Nada mais importante que voltar a um lugar onde nada mudou, para descobrir o que ainda permanence inalterado em você.

Educação é a arma mais poderosa para transformar o mundo. Liberdade não é apenas retirar as correntes dos outros, mas também viver com respeito pelos direitos daqueles que agora estão livres.

Se você conversar com alguém em uma linguagem que esta pessoa possa compreender, ele pensará no que você disse. Se você utilizar a língua desta pessoa, neste caso tocará seu coração.

Se pretende estar em paz com seu inimigo, convide-o para trabalharem juntos. A partir daí, ele será seu companheiro.

A melhor liderança é aquela que permite aos outros caminharem diante de você no momento de uma vitória. Caminhe na frente só em momentos de perigo.

Que a liberdade possa reinar. O sol nunca se põe quando conseguimos algo importante. Só homens livres podem negociar; prisioneiros não conseguem.

Não existe qualquer paixão quando se pensa pequeno, escolhendo uma vida menos interessante do que aquela que poderia ser vivida.

A sua liberdade e a minha liberdade estão unidas. Não existe algo chamado “meio livre”.

Quando a água começa a ferver, é meio idiota desligar o fogo.

Enquanto eu leio sobre a vida de Mandela, para me sentir mais motivado a enfrentar as nada difíceis trivialidades da boa vida burguesa, Mandela lia William Ernest Henley, poeta inglês, que contribuiu para inspirá-lo a ser um dos maiores nomes da história contemporânea do Mundo, um incansável lutador por ideais de liberdade e igualdade, um verdadeiro herói que deixa o seu exemplo vivo para sempre.

Sei que estou longe de ter o altruísmo e a coragem que marcaram este líder. Se ele é, de fato, uma pessoa normal, receio que seja infinitamente mais normal do que eu. Por isso é que o admiro tanto. Ainda bem que existem pessoas como Mandela. Parabéns, Madiba!O aniversário é seu, mas o maior presente você já nos deu. Muito Obrigado.

HSF

INVICTUS

(William Ernest Henley)

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

(tradução André C S Masini)