O “pancadão” de Prado

Vai chegando feriado e minha mulher corre pra internet, tentando achar um local aprazível e acessível ($$$) de forma a que possamos ir levando a prole e, preferencialmente, na companhia de amigos, para valorizar ainda mais a viagem. Ela bem sabe que se não tomar a iniciativa, as chances de ficarmos enfurnados em casa é enorme. E se isso ocorrer o previsível será: eu lendo um livro ou no computador, ela na internet vendo qual roteiro teríamos deixado de fazer e as crianças, entre uma briga e outra, jogando Nintendo Wii, vendo televisão ou no computador. Para mim, um feriado perfeito! Para ela, infernal….rsrs…

PradoBahiaBalnearioGuaratiba_atireiopaunogatoSó que neste sete de setembro, pelo visto, chegamos meio tarde. Não haviam mais vagas nos melhores hoteis, das cidades litorâneas mais próximas, ao Norte (porque ao sul, a metereologia previa chuva intensa). No entanto, em Prado (BA), havia ainda uma exceção, num tal de Hotel Villagio Guaratiba Resort. Seriam 5 dias, com café da manhã, para 4 pessoas (2 adultos e 2 crianças) por apenas “seiscentos real”??? Quando todo mundo se animou, eu fiquei com o meu bom e velho pé atrás. O hotel em Prado, mais barato, que não tinha mais vaga, nas mesmas condições, custava o dobro. Aquilo era bom demais para ser verdade.

Mas, a viagem se concretizou mesmo, quando um casal amigo (com suas duas filhas), adorou a idéia de ir a Prado (BA) conosco, pagando tão pouco. Pronto! Risco de ficar em casa, já não se corria mais. Minha mulher respirou fundo, preparou as malas (pelo volume, parecia que ficaríamos 40 dias e não 4…rs…) e traçamos o roteiro. Lá estava eu na estrada de novo (uma sina, pra quem detesta dirigir!). Até que, desta vez foi mais tranquilo, pois este meu amigo, pelo visto, não gosta muito de correr. Ele andava tão devagar que fiquei com medo de chegar a Salvador antes de Prado…..sacanagem, hein!? rsrsrs…Mas, no fundo, todos gostamos da providencial lerdeza do carro da frente.

PradoBahiaPraiaGuaratiba_atireiopaunogatoPouco mais de 7 horas depois (435 Km), chegávamos num portal, não tão digno assim de um Resort, mas o importante é que estávamos lá. Fizemos check in e fomos conhecer os quartos. No caminho (da recepção até os quartos), havia um ar de suspense misturado com abandono. Bonito o lugar era, não posso negar. Mas algo fazia parecer que aquilo era uma pegadinha ou algo assim. Era como se uma banda de música fosse surgir do nada e todo mundo em volta começava a rir da gente, sei lá….

O quarto, mesmo sendo de uma simplicidade espartana, não chegava a atrapalhar a nossa permanência. Logo de frente, uma piscina límpida e azul, só para nós, constrastava com a pobreza da TV 14″ (se bobear aquilo não chegava a 10″…rs.).

Enquanto todo mundo “engolia as orelhas” de felicidade com o achado e se considerando super espertos na escolha do local, eu, que sempre fui o “pessimista” de plantão, ainda não estava plenamente convicto daquilo que eu estava vendo. Mas, nada demais aconteceu naquela sexta-feira à noite. Fomos jantar e depois dormir. Um silencio maravilhoso. É…parecia mesmo que daquela vez, meus receios preconceituosos com coisa muito barata, eram infundados.

Na manhã seguinte, por volta das 9 horas, fui acordado com uma espécie de vibração estranha na cama. Era como um tremor nível 3, na escala richter, em ritmo baiano. Depurando a avaliação, percebi se tratar de música e bem alta. Coloquei a cara na janela e me deparei com uma cena deplorável: dois carros velhos e enferrujados, estacionados de ré, com o porta-malas aberto e com caixas de som “tamanho família” poluindo o ambiente com um Funk da pior qualidade (peraí: existe funk de boa qualidade??). Na nossa frente, um churrasco comendo solto, vários casais dançando e se divertindo a valer. A piscina, outrora “lagoa azul”, agora estava mais para “piscinão de Ramos”. A cor da água mudou de um azul celeste para um verde amarelado (…xixi, claro…), com aquele “mundo” de crianças pulando e jogando bola dentro. A pergunta era: de onde surgiu toda aquela gente?

Quando deu 20 horas e nossos ouvidos não aguentavam mais, fomos reclamar. A pessoa (ir)reponsável disse que “tomaria as providências, imediatamente”. Só que como esquecemos de perguntar quais, não adiantou nada. A pauleira só foi acabar pouco mais de meia-noite, quando a birita e os biriteiros se esgotaram. Conseguimos dormir.

No dia seguinte de manhã, tão-logo acordamos, com o mais perfeito e alto som do “Tigrão”  “…tapinha não dói…”, saímos de carro, pelas redondezas a procura de um outro refúgio. A gente já estava até disposto a acampar, se fosse necessário, mas no mais sagrado e profundo silêncio.

Foram várias as tentativas até que encontramos um simpático, honesto, bem administrado, organizado, bonito e equipado Hotel Villa Esmeralda, na mesma praia de Guaratiba, em Prado(BA), a uns 1.000 metros daquela balburdia populaça. Voltamos e demos a ótima notícia aos familiares, até então, isolados em seus módulos habitacionais.

Malas prontas, nem pensamos duas vezes, os oito “burgueses” tiveram de passar em meio àquela confusão toda, numa notória cena que mais parecia uma fuga. Aliás, era mesmo uma fuga. Parecia até a corte portuguesa fugindo de Lisboa, para o Brasil, em 1808, enquanto às tropas napoleônicas invadiam aquele reino….rsrs…

Mesmo, em meio ao “erudito” e alto som de “créu, créu, créu, créu, créu, créu….”, pude perceber os olhares e comentários de desaprovação da galera. Meu filho, de 11 anos, chegou a ganhar o nobre apelido de “riquinho”, quem dera fosse fundado.

No novo hotel, estávamos no paraíso! Nos divertimos bastante e, depois, rimos de tudo aquilo que havia acontecido. O engraçado e curioso é que nós oito, crianças e adultos, não conseguíamos pensar em outra coisa, senão “sumir” daquele lugar insuportável, lotado e barulhento. Só sossegamos quando conseguimos o feito!

Nunca, em toda a minha vida, demonstrei qualquer tipo de preconceito contra credos, raças ou condição socioeconômica  É evidente que aquelas pessoas que chegaram no dia seguinte e que nos haviam “subtraído” “nossa” tranquilidade, eram de um patente baixo poder aquisitivo. Pobres, mesmo! Mas, não foi isso que nos fez querer sair de lá. De jeito nenhum. Foram as atitudes daquelas pessoas. Aí, sim, rechaçamos aquele grupo que nos deixava, fácil, na condição de minoria.

Aquelas atitudes não eram populares, mas de extremo mau gosto e de uma absoluta falta de educação. Uma total inexistência de senso mínimo de convivência em grupo. Querer que nós tentássemos “acostumar” com aquelas práticas era o mesmo que tentar misturar água e óleo. Eu diria: missão impossível.

Dia seguinte passamos em frente ao antigo hotel e, como imaginávamos, o show de funk, a céu aberto, continuava a todo vapor e a rapaziada “descamisada” dançando, pulando, bebendo, gritando e morrendo de rir da vida. Acho que eles nem mais lembravam daquela gente “metida” que no dia anterior saiu fugida dali, se negando a participar daquela “mistura” de gostos e tipos sociais.

Naquela noite, sozinho, tomando um belo tinto, deitado numa espreguiçadeira branca ao lado de uma enorme piscina que refletia uma suntuosa lua cheia e um singular céu estrelado, ousei interromper aquele caro e disputado silêncio, com um pensamento muito confortador, em que eu agradecia (não me pergunte a quem? rs…) por estar lá, naquele lugar e naquele momento, com a minha família e com ótimos amigos. De olhos fechados e sorriso no rosto, tomei meu último gole de vinho e antes de pegar no sono, pensei: “….não podia mesmo ter sido diferente!…” .

HSF

Publicado por

Haroldo Santos Filho

Advogado, contador, consultor de empresas, especialista em processo civil e direito tributário, mestre em administração, gosta de viagens, fotografia, cinema, corrida e tênis

9 comentários em “O “pancadão” de Prado”

  1. Tá vendo como falar de futebol dá ipope? Até vc apareceu na Letra Elektrônica depois de um longo e tenebroso inverno. Huhauhauha! Mas os times cariocas agora parecem querer todos dominar a segundona hein? Parece que o Fluminense e o Botafogo ficaram com inveja do seu lusitano Vascão ó pá!

    Agora, fui pra Cumuruxatiba – trinta km de estrada de chão depois de Prado – faz uns dois carnavais e fiquei pê da vida com a buracaria depois da fronteira. Tá doido meu! Como vc não comentou nada a estrada deve estar melhorzinha né? Um abraço velinho, tamo junto!

  2. Pois é, amigo Juca!!! O vascão, desta vez, acho que emplaca……rsrsrs…Quanto a estrada para “Cumuru” está uma boa merda ainda. Mas, nem cheguei a comentar porque nosso foco era a praia de Guaratiba em Prado e todo o rebú inicial que lá vivemos…..mas, como você sabe, tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, não é verdade!!! Valeu pela visita! Abração. HSF

  3. Olá Haroldo, primeiramente pedimos desculpas pelo ocorrido. Não é esta recordação que gostaríamos que tivesse. A agitação com certeza não é um de nossos signos. O Villaggio Guaratiba se configura tradicionalmente como um local calmo e paradisíaco. O ocorrido foi uma lástima.

  4. Prezados Senhores, bom dia!

    Lamento não ter podido incluir, desta feita, melhores referências a respeito de seu estabelecimento. Sei que gerir um negócio hoteleiro é algo complicado, desgastante e que apresenta um relevante grau de complexidade, principalmente, quando se pretende agradar a todos os gostos. É uma tarefa inglória.

    Estou querendo acreditar que, simplesmente, não demos sorte e que poderão existir outras oportunidades para que esta primeira impressão possar se dissipar. Todavia, com o único intuito de colaborar gostaria de comentar pontos altos e baixos que foi possível perceber no Villaggio Guaratiba, mesmo nesta nossa rápida e infeliz passagem.

    Pontos Altos:

    – Atendimento na recepção (de ótimo nível com a Júlia)
    – Disponibilização de Internet sem fio (na recepção)
    – O restaurante (jantar) tem pratos simples, honestos, muito gostosos e bem feitos. (Macarrão ao Pesto, por exemplo)
    – Café da manhã simples, mas muito bom.
    – Disponibilização de quadra de tênis (com aula para quem precisar)

    Pontos Baixos:

    – Gerência e controle descentralizado e ineficaz. Impossível saber, extamente, o que está acontecendo nas redondezas dos módulos (chega a ser um risco à segurança). A impressao é que chega quem quer e coloca o som da maneira que quiser. As regras não são claras e não nos pareceu haver firmeza de propósito da administração quanto a manter o local “calmo e paradisíaco”. Música absurdamente alta durante o dia é difícil de se aceitar. Após às 22 horas, então, inconcebível. Acho que os senhores precisariam rever que tipo de hóspedes gostariam de ter na ocupação de seu hotel.

    – Para usar a quadra de tênis tem de pagar por hora! Talvez fosse melhor embutir e ratear o uso organizado de algumas quadras (ao menos) na diária, não é mesmo!? Como na maioria dos “Resorts” os que não usam todas as benfeitorias e serviços pagam pelos que usam. No geral, é mais simpático e mais fácil controlar. Acho até positivo, por muitas razões, que se suba um pouco sua diária.

    Não há nada tão ruim que não possa piorar nem tão bom que não possa melhorar. Espero que as ocasionais e isoladas insatisfações de seus clientes possam ser aproveitadas ao máximo, pelos senhores, no sentido de melhorar cada vez mais os seus serviços. A busca pela excelência é uma luta árdua e diária.

    Boa sorte e um abraço.
    HSF

  5. Nossaaa…Amei os seus comentários.
    Enquanto eu e meu namorado liamos não sabíamos se riamos ou se chorávamos(pois, vimos uma promoção baratinha desse hotel nesses site de compra coletiva e detalhe, íamos comprar)
    Ainda bem que você meteu o pau no gato, LITERALMENTE!!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  6. Olá Shirley,
    Obrigado pela visita. Espero que esteja bem!
    Fico feliz que tenha gostado do texto.
    Todavia, devo lembrar que o lamentável episódio (kkk) ocorreu há algum tempo. Aliás, tempo suficiente para que medidas coercitivas pudessem ser tomadas pela administração deste hotel no sentido de coibir os absurdos e abusos narrados que, depois de vividos e passado algum tempo, podem até virar motivo de piada…..rsrs…
    Acho que valeria a pena uma ligada pra lá e um conferida, EXPRESSA, sem rodeios, junto à administração, no sentido de saberem se eles, enfim, corrigiram ou não estas suas falhas….srss…
    Mantenha contato e grande abraço.
    HSF

  7. Boa noite, Haroldo e demais,

    Vi que o post é antigo e resolvi atualiza-lo em caráter de utilidade pública.

    Estivemos, eu e minha esposa, no “paradisíaco” lugar nesse fim de semana e percebemos que suas referências continuam bastante válidas, desde a simpatia da Julia até os pontos negativos.

    Os pontos negativos, aliás, aparentemente sofreram um pouco com o tempo. Os chalés parecem abandonados há um tempo, com pontos de ferrugem e cheiro de mofo, além dos demais inconvenientes citados.

    Devido aos mesmos problemas encontrados, além da péssima acomodação, saímos duas horas depois da chegada e fomos à Pousada Guaratiba, em Novo Prado, que, além do preço agradável, oferecia instalações e serviços dignos de elogios e recomendações.

    André dSP

  8. Olá André,
    Muito obrigado pela participação, visita e comentários.
    Lamento muito que o hotel não tenha conseguido melhorar. Um pena, diante do potencial que existe naquele lugar. Tinha tudo pra dar certo, né não?!….
    Obrigado e abraço.
    HSF

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