Inexorável “melhor idade” (#melhoridade)

A gente não se dá conta de que está envelhecendo até que as primeiras “limitações” físicas, surgidas por conta da “melhor idade”, comecem a dar sinais de vida.

Na verdade, é a inexorabilidade que nos arremessa contra uma parede branca, com os dizeres: “Aproveite enquanto pode, meu velho, a sua existência material é finita!“. Quando a pancada é bem dada, a gente acredita logo, é começa a viver a vida de outro jeito. Caso contrário, se continua a perder tempo com bobagens…

Convenhamos, ninguém que esteja livre de interdição pode gostar de envelhecer. Mas, mesmo assim, um dia desses eu estava tentando elencar as vantagens de se ficar mais velho, ou melhor, de começar a sentir dores no corpo que nunca imaginou existir, de levantar para fazer fazer xixi umas 5 vezes toda noite, de ver a memória começando a falhar, de se acalmar sexualmente *, isso para ficar com poucos bons exemplos…rsrs

Depois de muito pensar, cheguei à primeira e, para mim, mais importante vantagem de caminhar para a melhor idade: é que a outra alternativa é muito pior, né?! Ou você envelhece ou…

Empolgado com a descoberta, parti logo para a segunda vantagem quando fui interrompido por uma música que tocava no rádio, “a vida tem dessas coisas“, cantada pelo Ritchie. Parei tudo e só curti. Foram 4 minutos de muitas e boas lembranças. Memórias vivas que só poderiam ocorrer em quem já tivesse vivenciado alguma história de vida.

Caiu a minha ficha. Claro! A outra grande vantagem de se envelhecer é o significado amplificado que passam a ter as coisas. Até o “ouvir” uma música pode se transformar em uma experiência fabulosa como, de fato, foi. E a coincidência de tocar Ritchie não poderia ter sido mais adequada, pois ao relançar seus antigos sucessos, o cara se redescobriu, ficou novo em folha, exatamente, como todos deveríamos fazer, de tempos em tempos.

Então, se você já tem seus “quarentinha” ou mais, aproveite a música ou qualquer situação que lhe traga a tona bons e significativos sentimentos. Depois, renove-se para os seus novos desafios. É isso que vai mantê-lo vivo!

Mas, se você ainda não tiver chegado lá, fique tranquilo. Não apresse nada porque quando você menos esperar, sem que ninguém entenda o motivo, também estará se emocionando com as deliciosas trivialidades do cotidiano. Quando isso acontecer, seja bem vindo ao clube!

* que fique claro: não é o meu caso (ainda!).

HSF

Video 1: “A vida tem dessas coisas” (Ritchie)

Video 2: “Menina veneno” (Ritchie)

Feliz aniversário, Madiba!!

Uma de minhas leituras preferidas é a biografia. Lendo a história de vida de grandes personagens ou heróis tento achar algum indício de que realmente estas pessoas eram “normais”, como eu ou você.

Procuro atestar que cometiam erros, que tinham de enfrentar seus medos e suas inseguranças e que o que as diferenciava, realmente, eram “apenas” as suas convicções e sua obstinação em alcancar seus objetivos. Assim, mantenho minhas chances (ainda que remotas) de algum dia, ser capaz de poder fazer algo útil à humanidade…

Mas, nem sempre é fácil me convencer de que não se tratam de pessoas muito especiais (diferentes para melhor!). Um bom exemplo disso é quando analiso a história de vida de Nelson Mandela que, hoje, completa 92 anos. Um dos maiores líderes do movimento anti-apartheid, foi preso político do governo opressor, durante 27 longos anos.

Quando foi libertado, em 11 de fevereiro de 1990, continuou liderando seu povo até se tornar Presidente da África do Sul. Em nenhum momento, nutriu qualquer tipo de sentimento negativo contra aqueles que o subjugaram no passado. Bem ao contrário, repudiava o ódio aos brancos (social e economicamente dominantes no passado próximo), toda vez que percebia sentimentos de vingança por partes de seus seguidores.

Algumas de suas mais profundas convicções se evidenciaram quando ele retornou, em visita, à cela em que ficou preso por quase três décadas (Paulo Coelho´s Blog):

Nada mais importante que voltar a um lugar onde nada mudou, para descobrir o que ainda permanence inalterado em você.

Educação é a arma mais poderosa para transformar o mundo. Liberdade não é apenas retirar as correntes dos outros, mas também viver com respeito pelos direitos daqueles que agora estão livres.

Se você conversar com alguém em uma linguagem que esta pessoa possa compreender, ele pensará no que você disse. Se você utilizar a língua desta pessoa, neste caso tocará seu coração.

Se pretende estar em paz com seu inimigo, convide-o para trabalharem juntos. A partir daí, ele será seu companheiro.

A melhor liderança é aquela que permite aos outros caminharem diante de você no momento de uma vitória. Caminhe na frente só em momentos de perigo.

Que a liberdade possa reinar. O sol nunca se põe quando conseguimos algo importante. Só homens livres podem negociar; prisioneiros não conseguem.

Não existe qualquer paixão quando se pensa pequeno, escolhendo uma vida menos interessante do que aquela que poderia ser vivida.

A sua liberdade e a minha liberdade estão unidas. Não existe algo chamado “meio livre”.

Quando a água começa a ferver, é meio idiota desligar o fogo.

Enquanto eu leio sobre a vida de Mandela, para me sentir mais motivado a enfrentar as nada difíceis trivialidades da boa vida burguesa, Mandela lia William Ernest Henley, poeta inglês, que contribuiu para inspirá-lo a ser um dos maiores nomes da história contemporânea do Mundo, um incansável lutador por ideais de liberdade e igualdade, um verdadeiro herói que deixa o seu exemplo vivo para sempre.

Sei que estou longe de ter o altruísmo e a coragem que marcaram este líder. Se ele é, de fato, uma pessoa normal, receio que seja infinitamente mais normal do que eu. Por isso é que o admiro tanto. Ainda bem que existem pessoas como Mandela. Parabéns, Madiba!O aniversário é seu, mas o maior presente você já nos deu. Muito Obrigado.

HSF

INVICTUS

(William Ernest Henley)

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

(tradução André C S Masini)