Sempre torço para o touro

BULLFIGHTING-SPAIN-SAN FERMINPoucas tradições criadas pelo homem, ao longo de sua evolução história e cultural, são tão idiotas e sem sentido como aquelas que envolvem animais irracionais, via de regra, sendo maltratados para o deleite de um bando de covardes.

Desde garoto, não faço idéia porque, nunca gostei de filmes, atividades ou apresentações que tivessem como “artista” principal um bicho. Sempre tinha a nítida sensação de que aquele pobre animal não havia pedido para ser “astro” e, ainda pior, se pudessem ter a consciência de sua existência, talvez odiassem o ser humano que o escravizou e o desvirtuou da sua mais pura natureza, por dinheiro.

A tourada, por exemplo! Que me desculpem as nações que conseguem vibrar com aquela selvageria, mas aquilo é uma “escrotice” sem tamanho. Um animal gigante, normalmente dopado, é induzido ao erro ao preparar ataques a um sujeito ridiculamente vestido, com corpinho de bailarina e um pano vermelho, cujo verso esconde uma ou duas espadas bem afiadas (isso, para o caso de se precisar antecipar o final do “show”). Aos gritos de uma platéia dominada pelos seus extintos mais longíquos, o animal sofre a cada “espetada” que toma no dorso, enfraquecendo, pouco a pouco, até que o “ato de misericórida” desferido pelo toureiro, em sua nuca, o faz sucumbir. Dizem que depois de tudo, aquele animal morto vira comida de pessoas carentes. Grande coisa!… Realmente, me pergunto: como é que alguém pode gostar de ver isso!?

Aqui no Brasil temos os rodeios que, segundo seus defensores mais ardorosos, “nenhum animal sofre”. Nunca fui a um, nem tenho vontade de ir. Mas, nada me tira da cabeça que aqueles bezerros laçados à distância e que depois precisam ser amarrados em tempo recorde, virando um pacote em que somente seus olhos se movem, não me parece ser uma diversão para eles tanto quanto parece ser para toda aquela gente, vibrando na arquibancada, ostentando grandes chapéus de vaqueiro e suas hipertrofiadas fivelas de cinto. Eu respeito quem gosta, sim, mas acho aquilo tudo ridículo!

Na Espanha e em diversos outros países existe uma secular tradição, numa determinada data do ano, em que touros são soltos pelas ruas e um monte de babaca fica correndo atrás e na frente, como que desafiando o “perigo”, enquanto apedrejam, espantam, furam, cortam e maltratam o animal, cujo fim, normalmente, não é diferente daquele seu primo da tourada.

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Espetáculos circenses mais modernos já perceberam que pouca gente quer ver elefantes, chimpanzés e leões fora de seu habitat natural, fazendo “graça” como se fossem crianças de 2 aninhos, fazendo a família vibrar com a sua precocidade e capacidade de pular de um banquinho a outro. Nesta corrente, foram criadas duas categorias de espetáculos: aqueles que vão de carona no maravilhoso Cirque de Soleil (sem bichos) e aqueles, decadentes, que ainda precisam divulgar seus números desfilando pela cidade, em uma caravana mal cheirosa, com animais enjaulados e “descontentes”.

É por estas e outras que a minha torcida SEMPRE será para o animal, quando maltratado no picadeiro. Querem me ver vibrar, como se o Vascão tivesse enfiando uma goleada no rival rubro-negro, é quando um touro levanta a 3 metros do chão seu algoz de “roupinha bordada” ou quando atropela um idiota qualquer, nas ruas de Pamplona, sem piedade! É quando eu costumo gritar “olé”!!…

Crueldade de minha parte? Desvio de caráter? Acho que não. Da mesma maneira que se explica o gosto daqueles que se divertem com o sofrimento de um mamífero inocente, no meu caso, talvez, também seja somente um reflexo de nossa tradição cultural que nos faz se afeiçoar aos “pobrezinhos” e  sempre nos coloca do lado da torcida pelo mais fraco, por mais improvável que esta vitória pareça ser.

HSF

Estradas brasileiras, vilãs do turismo interno

Depois de muito tempo, acabei baixando a guarda e aceitando o convite de amigos para fazermos uma viagem com a família de carro. Resolvemos ir para Teresópolis (RJ), “descansar” na Pousada Urikana (excelente!), com programação de ida à Petrópolis (RJ), para que as crianças pudessem conhecer um pouco de nossa história, principalmente, aquela contada pelo Museu Imperial. Programa simplesmente imperdível, para adultos e crianças!…

A viagem em si, foi ótima! Belas paisagens, ótima história e sensacional companhia de amigos. Além disso, como sempre, uma imersão forçada com a família, sempre favorece o estreitamento destas relações que, no corrido dia-a-dia, sofrem com as nossas ausências.

Mas, a dureza mesmo foi chegar. Tenho horror a dirigir em estrada. Acho, inclusive, um idéia de jerico enfiar a família num carro e viajar por mais de 2 horas. Imagine então 6 horas!? Uma insanidade, considerando o permanente risco que se corre nestas circunstâncias. Mas, tem hora que a gente precisa ser menos intransigente e aceitar a vontade da maioria. Foi o que fiz, caindo na estrada.

Resolvemos curtir o bucolismo das estradas vicinais, sem caminhões e com paisagens lindas durante todo o percurso. Foi aí que fui parar numa estrada criminosa, a RJ-186 transformada em MG-393, especificamente, o trecho compreendido entre Santo Antônio de Pádua (RJ) e Além Paraíba (MG), passando por uma “grota” (com todo respeito) chamada Pirapetinga (MG).

A estrada era só cratera. Consegui me livrar enquanto foi possível, até que passei por um trecho que, dada uma certa combinação de fatores, tecnicamente conhecido como “azar fudido”, não tive como evitar o pior. Isso me custou dois (eu disse dois!) pneus rasgados e duas rodas de liga leve empenadas (ambos do lado direito do veículo). Foram quase três horas parado na estrada à noite e com duas crianças no carro perguntando se ia demorar, a cada 5 minutos. O estresse era tão grande que nem foi possível aproveitar aquele céu estrelado, que se apresentava majestoso sobre nós…rs…

Não fosse a rapidez e boa vontade de um casal amigo que viajava conosco em outro carro, talvez, tivéssemos ficado o dobro do tempo parado ali, a mercê da sorte. Ficou clara a primeira grande lição: nunca viajar sozinho de carro.

A segunda grande lição é a seguinte: não deixe de viajar com a família e amigos, mas se esforce (gastando um pouquinho mais…) para conseguir ir de avião até uma cidade mais próxima, fazendo o menor trecho possível de carro (alugado). Isso reduziria exponencialmente o risco de acidentes. No meu caso, por ter tomado um prejuízo de cerca de R$ 1.200,00 com os consertos, até sobraria dinheiro se eu tivesse feito esta opção.

Mas, no final das contas, ter podido ver meus filhos correndo pra lá e pra cá, soltando vapor pela boca, provocado pelo clima frio das montanhas e ter comemorado meu aniversário (12/junho) entre amigos da melhor qualidade, tomando um autêntico Malbec Crios, da Susana Balbo foi mais do que suficiente para a viagem ter valido a pena, superando em muito o desagradável incidente. Gostei de verdade da programação feita e agradeço muitíssimo por ter podido fazer esta viagem.

Quanto ao acidente, ainda poderemos ter um desdobramento disso, caso sigamos em frente com o propósito de acionarmos o Estado de Minas Gerais pelas estradas criminosas mantidas sob a sua responsabilidade. Quem sabe daqui a uns 40 anos, nossos netos não possam usufruir financeiramente desta nossa iniciativa, não é verdade..!?…rs…

Finalmente, a terceira e última grande lição tirada desta experiência nas estradas é tão-somente a ratificação daquilo que sempre achei e deverei continuar achando: viajar é ótimo, mas viajar de carro é mesmo uma merda! Não acha não!? Já conseguiu rasgar dois pneus em um único buraco? Rsss….

Carteirinha de torcedor! Alguém merece?!

Já estive do lado de lá (público), na gestão administrativa municipal e em outros órgãos públicos e, posso afirmar com perfeita exatidão, o quanto dói ouvir de quem nunca fez nada pela melhoria do bem estar social, uma ácida e irônica crítica em cima de uma idéia ou de um procedimento que você, que os defende na condição de agente público, tem certeza de que funcionará. Sei bem como funciona…

Exatamente por isso é que penso muitas vezes antes de lançar alguma crítica, ao setor público ou, em casos mais específicos, até mesmo de, carinhosamente, alcunhar alguma “sacada” proveniente da admnistração pública como sendo uma idéia de jerico. Apesar do cuidado, quando chego a afirmar isso, tenho observado uma relação que atende ao conhecido princípio de Pareto (80-20), ou seja, de cada dez vezes que acho a idéia descabida, acerto 8. Tá bom, não tá?!….

Agora foi a vez do nosso digníssimo Ministro dos Esportes, Orlando Silva, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), divulgar a sua “magnífica” e inusitada idéia de instituir uma “carteirinha de torcedor de futebol”, já para entrar em vigor a partir do brasileirão de 2010. A motivação foi a violência descabida que hoje impera nos estádios de futebol. A tal carteirinha teria uma impressão digital e a “roleta” acusaria a entrada de alguém, digamos assim, fichado, ou seja, que já tenha aprontado alguma em algum jogo dos campeonatos brasileiros, coordenados pela CBF.

E isso não vale só pra torcida organizada não! Qualquer um, terá um prazo definido para se cadastrar, senão, não teria direito a entrar em um estádio para ver o seu time jogar. Como fariam com os turistas, por exemplo?!…

Bom, pelo que lembro dos bancos acadêmicos, tal idéia além de esdrúxula é também manifestamente inconstitucional. Mas, até aí tudo bem! Tem um montão de dispositivo legal vigente por aí, totalmente inconstitucional, mas que foi aprovado por “solicitação” do executivo. Com todo respeito aos legislativos (municipal, estadual e federal), infelizmente, não é de hoje que eles só têm trabalhado, subservientemente, para o Executivo…

O que me preocupa, usando de um português mais “técnico” é se esta merda vai mesmo dar certo ou, de longe, atingir seus objetivos. Alguém já ouviu falar em RG? Registro Geral ou Carteira de Identidade? Com base neste documento oficial, já seria possível fazer um controle mais rigoroso da entrada de desordeiros nos espetáculos de futebol. Sem contar que o próprio ingresso, com código de barras, chips e tantos outros “gadgets” já comportaria mecanismos sofisticados de cerceamento de “vagabundos”, atrapalhando a vida de quem quer só se divertir, sozinho ou com a família.

Outro ponto a ser considerado é que a necessidade de se manter a ordem pública cabe ao Estado, de diversas formas, sendo uma delas, através de suas forças policiais que, em casos de espetáculos “públicos” como jogos de futebol para mais de 10 mil torcedores, deve estar presente e pronta para coibir atos de vandalismo, violência, agressões e tudo o mais. Ali, meu amigo, tem de valer tudo para se manter a paz, desde a simples presença do policial em quantidade relevante à determinação da voz de prisão e, até mesmo, o uso da força, na sua proporcionalidade necessária. Lamento dizer, mas tem gente que só sossega tomando porrada. Politicamente incorreto, eu sei, mas é verdade, não é!?

Por outro lado, a violência dos estádios, infelizmente, não pára dentro deles. Segue pelas ruas, tão-logo terminem as partidas mais disputadas. E, muitas vezes, a pancadaria e a covardia, correm soltas, momento em que uma carteirinha dessas, talvez, só tivesse a utilidade como arma, se for de PVC então, melhor ainda, poderia até cortar uma garganta…rs…

Mas, vamos dar tempo ao tempo e ver se a minha previsão, desta vez, estará dentro dos 20% de Pareto. Isso significará que a idéia terá sido brilhante e bem sucedida e, não apenas, um espalhafatoso evento de marketing estatal. Não torço contra, não! Todavia, acho que a adoção de carteirinhas funciona muito bem com estudantes, como bem entende o nosso Ministro, só não sei se funcionaria com desordeiros profissionais que, para muitos deles,  não bastaria ficar de fora de um jogo. Precisariam mesmo é ficar de fora da sociedade!

Dizem que o cavalo árabe é um dos mais inteligentes de sua espécie. Senhor Ministro, por enquanto, por ainda não termos todos os detalhes da operacionalização da coisa, vamos dizer que essa história de “carteirinhas” não chega a ser uma idéia de jerico, talvez, de cavalo árabe…

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HSF