Malditas e amadas muletas

Tinha acabado de ser apresentado pelo mestre de cerimônia, como o palestrante da noite em um encontro profissional que ocorria em Macapá(AP). Antes de me dirigir ao palco e iniciar a exposição dei aquela conferida no bolso para ver se achava um crucifixo que sempre portava em momentos assim. Tomei um susto ao perceber que aquele meu “amuleto da segurança” não estava ali comigo. Apesar da inicial gaguejada, embaralhada nas idéias e um suor frio que me acometeu, precisei de alguns minutos para cair na real de que a palestra tinha de acontecer, com ou sem meu crucifixo. No final, deu tudo certo, mas não pude deixar de perceber como eu estava “dependente” daquele objeto.

Dia desses planejava um treino de corrida bem interessante para realizar no dia seguinte. Seria um trotinho leve e despretensioso, de uns 10 a 12 Km, com uma freqüência cardíaca confortável, ou seja, a uns 60% da máxima. Amanheceu um dia lindo! Peguei meus inseparáveis equipamentos de corrida, o monitor cardíaco e o ipod, e fui para a rua.

Alonguei e iniciei o treino. Mas, com menos de 10 minutos, percebi que o meu monitor (relógio) não marcava mais minha FC, nem velocidade. Parou! Frustrante! Continuei meio sem graça, mas continuei. E, antes mesmo de chegar aos 3 Km, fez-se um desolador silêncio nos meus ouvidos, bem no meio do “runnin’ with the devil”, do Van Halen (ouça a música no player abaixo do post). O ipod acusava a falta de bateria. Como pude ser tão negligente?!….rs

Pronto! Tal qual havia ocorrido naquela palestra em Macapá (AP), me vi desprovido de meus amuletos, com os quais havia me acostumado a curtir a corrida, durante muito tempo. Era o manco sem as suas muletas. O que fazer? Continuar a corrida como se nada tivesse ocorrido ou parar? Decidi continuar, mas com uma tremenda má vontade e com a certeza de que nem chegaria ao fim. Precisei de uns 5 Km para, enfim, voltar a ter prazer na corrida, ouvindo a minha respiração, os carros passando, as pessoas falando e o cachorro latindo. Voltei a me integrar ao ambiente e a corrida fluiu novamente.

Não vou negar que adoro correr ouvindo música e monitorando minha FC, minha velocidade e a distância já percorrida. É um vício, além de ser ótima esta sensação de controle. Mas, por outro lado, a experiência de se despir das “bengalas” e partir para uma corrida “limpo”, vale muito a pena. Agora, tenho procurado intercalar corridas em que pratico “equipado”, como antes, e outras em que corro “puro”, sem artificialismos tecnológicos que aumentam a minha sensação de poder. No fundo é tudo bobagem. Se você já se preparou adequadamente, não precisa de nada disso para sentir prazer em correr.

Tenho reforçado ainda mais a minha percepção de que os “minimalistas” tendem a ser mais felizes do que aqueles que complicam coisas que, em essência, deveriam ser muito simples, como correr, por exemplo. Mas, perceber isso já é uma grande vitória. É preciso vigilância permanente para conseguirmos desassociar a sensação de bem estar com a necessidade (falsa) de se ter. A mudança é simples, mas não é nada fácil.

Pode ser que demore, mas eu ainda chego lá. Eu quero! E, quando isso ocorrer, vou levantar da cama num belo dia, colocar uma sunga (somente uma sunga!) e correr pela areia da praia até cansar, feito o “Forrest Gump” daquela linda fábula contada no cinema. Para um observador externo pode ser até que pareça faltar algo. Mas eu terei a certeza de que estarei completo. Livre das muletas. Pleno e feliz!…

HSF

* Haroldo Santos Filho é advogado, contador, engenheiro, mestre em administração financeira (UnB) e sócio da Haroldo Santos Consultoria Empresarial.

Correndo pra vida!

Início de ano é sempre uma boa invenção e um bom pretexto para mudar. A gente, normalmente, torce o nariz por causa das mudanças mas, acredite, a maioria delas traz algo positivo em seu bojo.

Quando esta mudança se refere a adoção de novos hábitos, com foco em uma melhor qualidade de vida, mais saúde (o que é diferente de menos doença!) é ainda mais oportuno.

Então, que tal iniciar o ano acordando cedo, se exercitando diariamente, mantendo uma alimentação frugal (pelo menos entre segunda e quinta), lendo mais e vendo menos TV?? Muita coisa pra mudar, não é!? Então, esquece o “ver menos  TV”, vai….rs

E correr, então!? A corrida é uma das atividades que mais provoca mudanças benéficas em seu corpo. Só que para você correr, antes, seu corpo (sistema cardio-respiratório e esquelético-muscular) deve ter sido adequadamente preparado para isso. É nesta hora que eu costumo dizer que, correr não é para quem quer, mas para quem pode! E o bacana é que todo mundo pode, desde que se prepare para isso.

Quando alguém me diz que não gosta de correr, logo penso: não sabe correr! Quem corre menos de 20 minutos e para quase morrendo, colocando os “bofes pra fora”, não pode mesmo “gostar de correr”. Nem ao menos atingiu o tempo mínimo para que as endorfinas (ô diliça!!!…) sejam jorradas em sua corrente sanguínea proporcionando sensação de prazer e bem-estar. Mas, então se eu não sei, como é “saber correr”? Primeiro é ter o corpo preparado para a corrida, de tal forma que o movimento de corrida não venha a se tornar desconfortável ou sacrificante. Segundo, é saber trabalhar o esporte dentro de um ritmo cardíaco seguro, confortável e saudável. Isso tem a ver a com a sua idade (A definição de sua frequência cardíaca (FC) de trabalho é definida por fórmula que usa a idade), claro, mas principalmente com a sua capacidade física adquirida com a continuidade da prática do exercício.

E como começar a correr? Nesta hora NÃO fuja do lugar comum. 1º) Procure um cardiologista e um professor de educação física. 2º) Faça um check up geral, com os exames que estes profissionais, provavelmente lhe passarão. Isso vai demorar, no máximo, 10 dias. Pense grande! Para quem pretende correr pro resto da vida, o que são 10 dias?! Provavelmente, você precisará mudar hábitos alimentares. No mínimo comer e beber (se for bebida alcoólica) em menor quantidade. Comece as mudanças devagar, mas comece!

Passada esta etapa, inicie o seu treinamento com persistência, continuidade, paciência e sem nenhuma pressa. Se você se apressar, é muito provável que vá se lesionar (aí, vai precisar de tempo pra se curar e depois começar tudo de novo!). Se o seu intuito é começar a correr provas de rua, o que eu acho uma ótima ideia, coloque na cabeça que, antes dos 4 meses de treinamento, você deve ESQUECER A PRETENSÃO de participar de provas acima de 5 quilômetros (5K) (** claro que isso depende de cada pessoa, mas esta regrinha de segurança vale para a média das pessoas!…). Quer correr uma maratona!? Ótimo!! Treine sério (muito sério!) por pelo menos 1 ano. Mas, como disse, na corrida não se deve apressar resultados pois, quando fazemos isso, os resultados que costumamos apressar chamam-se contusões.

Um livro que me ajudou muito no início e que, infelizmente, não encontrei mais para comprar (para presentear os amigos) foi a excelente obra de Marcos Paulo Reis, Emerson Gomes e Fabio Rosa, chamada “Programa de caminhada e corrida“. Trata-se de um livro de fácil e agradável leitura e absolutamente fundamental para uma iniciação segura e feliz na corrida. Mandei até e-mail para os autores perguntando sobre novas edições (editora abril), mas ainda não obtive resposta. Enquanto isso, para quem se interessar, segue um link seguro, encontrado na internet, para baixar o livro em PDF. (para baixar livro escaneado clique aqui).

E para quem ainda tem alguma dúvida sobre se correr é esta maravilha que pintam, vale ouvir a opinião da personal trainer e especialista em fitness, Valéria Alvim (matéria), sobre os benefícios da corrida:

“1. Coração: a corrida exige que o coração aumente o fluxo de sangue para todo o corpo. As fibras do músculo se fortalecem e a cavidade aumenta. Há uma hipertrofia excêntrica do miocárdio (alteração na parede e na cavidade do ventrículo esquerdo) melhorando a ejeção sanguínea. Desta forma o coração bombeia mais sangue com menos batidas, se tornando mais eficiente. Com o aumento da circulação sangüínea pelo corpo, cresce a entrada de oxigênio nos tecidos.

2. Pulmões: correr faz com que o volume de ar inspirado seja maior, aumentando a sua capacidade de respiração. Há também um aumento da quantidade de oxigênio absorvido do ar atmosférico.

3. Ossos: estimula a formação de massa óssea, aumentando a densidade óssea evitando problemas como a osteoporose.

4. Pressão arterial: correr estimula a vasodilatação, o que reduz a resistência para a circulação de sangue. Há trabalhos específicos para alunos hipertensos, como trabalhar a velocidade em terrenos planos. Uma maneira de diminuir a sua pressão é trabalhando a velocidade em terrenos plano.

5. Cérebro: aumenta os níveis de serotonina, neurotransmissor que regula o sono e o apetite. Em baixas quantidades, essa substância está associada ao surgimento de problemas como a depressão.

6. Peso: quanto maior a intensidade do exercício maior a queima calórica e de gordura. A corrida ajuda a gastar muitas calorias, favorecendo a perda ou manutenção do seu peso. Em uma hora de treino, um atleta chega a queimar até 950 calorias.

7. Colesterol: diminui os níveis de LDL (colesterol “ruim”). Corredores de longas distâncias têm o nível mais alto de HDL (colesterol bom ), encarregado de transportar os ácidos graxos no sangue e de evitar o seu depósito nas artérias.

8. Estresse: com a corrida, há liberação do hormônio cortisol, aliviando o estresse e a ansiedade.

9. Sono: fazer atividade física, melhora a qualidade de sono. Correr faz a pessoa dormir melhor. Após o exercício, o corpo libera endorfina, substância que provoca a sensação de bem-estar e ajuda a relaxar.

10. Músculos: a corrida ajuda a melhorar a resistência muscular e também queima a gordura dos tecidos musculares, deixando-os mais fortes e definidos.

11. Rins: com o aumento da circulação, há também uma melhora da função dos rins, que filtram o sangue e reduzem o número de substâncias tóxicas que circulam pelo corpo.

12. Articulações: correr torna a cartilagem das articulações mais espessa, o que protege melhor essas regiões tão frágeis do nosso corpo.

13. Aumenta a libido: após 30 minutos de corrida, há um aumento da testosterona que permanece assim, por mais uma hora aproximadamente. No caso das mulheres, também há um aumento dos hormônios relacionados ao desejo, além de aumentar a auto-confiança.”

Ahh…sem contar que, neste mesmo espaço, eu já comentei que a corrida melhora a ereção e evita câncer (post aqui).

E, então!? Tá esperando o que para começar 2012 com o pé direito? (…e, de preferência, com um tênis de corrida de boa qualidade…)

HSF

Corrida de Montanha – por Léo Freitas

“Olá Pessoal,

Este post eu gostaria de dedicar especialmente a minha madrinha Rosângela que ficou interessada ao assistir ao vídeo do Anton Kupricka e sobre a filosofia Running Free.

A cada ano que passa a corrida vem tomando as ruas e mais adeptos. Com isso o mercado vem crescendo e cada vez mais se vê tantos modelos de tênis e acessórios para corrida.

Os modelos de tênis vêm crescendo e os lançamentos e pré-lançamentos estão acontecendo com intervalo de tempo cada vez menor. Os acessórios estão sendo criados para atender as “necessidades” dos corredores e ao invés de ver pessoas correndo nas ruas, o que se vê é uma enorme quantidade de acessórios sobre um ser não identificado.

Correr é natural do ser humano. Assim que aprendemos a dar os primeiros passos o próximo estágio é a corrida. Com isso as brincadeiras de corrida e assim sucessivamente. A corrida faz parte da nossa vida.

Os primórdios utilizavam a corrida como forma de sobrevivência. Como não somos seres velozes capazes de capturar certas presas, os primatas utilizam o enorme poder de resistência do ser humano para se manter atrás da presa por longos períodos cansando a mesma para em seguida abatê-la. Esses seres não utilizavam nada, corriam descalços e levavam apenas as ferramentas de caça. A água era proveniente de lagos e rios e assim seguiam atrás das suas presas. Muitas outras civilizações posteriores utilizam a corrida como forma de deslocamento e caça percorrendo longas distâncias.

A corrida é uma atividade simples que não requer absolutamente nada que não seja sair por ai e correr. Porém, as pessoas transformaram isso e tornaram o que era simples em uma atividade extremamente complexa.

Os corredores de rua de hoje se preocupam muito mais com pares de tênis, acessórios, metodologias complexas de treinamento do que com a atividade em si. Muitos não sabem nem o que é corrida, mas já dão os primeiros passos preocupados com ritmo, freqüência cardíaca, zonas de treinamento, tipos de treino, etc. Estão o tempo todo competindo, até mesmo transformando os treinamentos em competições com outros corredores. Sem contar com o desfile de moda.

Em geral, os corredores de hoje em dia querem muito mais aparecer com roupas, equipes esportivas, publicações de treinos medíocres em sites de relacionamento que verdadeiramente correr. Não podem participar de um evento e alcançar um pódio na categoria mesmo com um número ínfimo de participantes que já sentem a necessidade imensa de postar em sites de relacionamento.

Quando comecei a praticar a corrida de montanha percebi o quanto os corredores desta modalidade são reservados e simples. Fiz várias pesquisas na internet sobre os melhores corredores do mundo, competições e percebi que os grandes campeões são pessoas simples, com uma vida normal no dia a dia e com uma maneira muito diferente de ver a corrida. Fiquei um pouco intrigado no início e hoje compreendo muito bem esse jeito de ser.

O corredor de montanha de alguma maneira tem uma ligação muito forte com o campo e muitos passaram grande parte da vida em contato com a natureza, subindo montanhas, fazendo grandes caminhadas, cuidando de roças e sítios. São pessoas que carregam um prazer incondicional por estar em áreas verdes, admirar as paisagens, sentir o ar limpo do campo, beber água no riacho, enfiar no pé na lama, ficar todo sujo de terra e no final de tudo sentar em uma pedra e apenas escutar o barulho da floresta.

A simplicidade tem a ver com a maneira como encaram a vida e como percebem o verdadeiro espírito da corrida e sua relação com as montanhas e suas origens. Acessórios e equipamentos em excesso nada tem a ver com esse ambiente assim como desfiles de moda e necessidades de aparecer como acontecem nas corridas de rua. Todas as pessoas que estão nas montanhas percebem o quanto somos seres insignificantes perto destes ambientes hostis. O respeito pelas montanhas sempre prevalece e a ajuda pelo próximo é algo natural.

Cito aqui alguns nomes deste esporte que admiro e respeito bastante como: Exemplos para mim de simplicidade e de fantásticos corredores.

Marco Olmo: http://www.youtube.com/watch?v=3pGSNzcuzvQ

Scott Jurek: http://www.youtube.com/watch?v=Qo4iQ04ZIZ8&feature=related

Geoff Roes: http://www.youtube.com/watch?v=z5AzvOLUtOI

Anton Krupicka: http://www.youtube.com/watch?v=bicmp2yyrFk&feature=related

Não poderia também deixar de citar o George Volpão. Grande corredor de montanha brasileiro que tive o prazer de conhecer e foi um cara que me incentivou e me ajudou muito a iniciar neste esporte (www.georgevolpao.blogspot.com). Um cara simples, atencioso e que fala o que quer sem se preocupar com os outros (Hehehe).

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre essas feras é só assistir os vídeos acima e fazer uma busca na internet e aprender um pouco sobre montanhas e vida simples!!!

Um forte abraço a todos e boas corridas!!!
Léo Freitas”

Link: Corredores de montanha (domingo, 14 de agosto de 2011)

Trekking ES Sul – do papel para a história…

Eu na praia de Marobá
Eu (praia de Marobá)

…É rico, é pobre, é feio, é bonito, é branco, é preto, não interessa! No final, vai todo mundo pro mesmo buraco… prlroo burlraaacoo…..” . Esta autêntica filosofia de botequim foi dita, em voz bastante alta e arrastada, por um inofensivo “bebum” que passava ao nosso lado, enquanto tomávamos uma água de coco bem gelada, de frente à bonita praia de Marobá (sul do Espírito Santo), iluminados por uma espetacular lua cheia e pelo gratificante sentimento de dever cumprido, ao vencermos a primeira etapa de nosso trekking, completando 12,5 Km, em 4 horas e meia de caminhada pela praia. A sexta-feira já estava no fim. Era quase hora de dormir e se preparar para o dia seguinte…

Este trekking foi todo planejado com o uso do Google Earth (para baixar roteiro clique aqui). Com a providencial ferramenta, foi possível mapear nosso ponto de saída, praia das Neves (extremo sul do estado do Espírito Santo), calcular o tamanho aproximado das duas “pernas” de caminhada (entre 10 e 15 Km, cada) e escolher os pontos de apoio, ou seja, locais prováveis para que pudéssemos chegar, tomar banho, comer alguma coisa, apreciar ligeiramente as características locais e, claro, desmoronar o esqueleto em alguma cama honesta, para aprontá-lo para o dia seguinte de programação.
Manguezal - Marco zero
Manguezal - Marco zero
caminho deserto 1
caminho deserto 1
caminho deserto 2
caminho deserto 2
caminho deserto 3
caminho deserto 3
Falésias e beleza natural
Falésias e beleza natural
Falésia - chegada estava próxima
Falésia - chegada estava próxima
Garças - presença constante
Garças - presença constante
Lagoas: presença constante ao longo do caminho
Lagoas: diversas ao longo do caminho
companhia: especial e inspiradora
companhia: especial e inspiradora
O sul do Espírito Santo mostrou-se, realmente, muito bonito. Logo na saída do Trekking, no extremo sul do estado do Espírito Santo, avistamos a divisa geográfica entre nosso estado e o estado do Rio de Janeiro, o rio Itabapoana. Pouco depois do local em que desemboca o rio, nas areias brancas da praia, antes da movimentação natural (quiosques e banhistas) da praia das Neves, foi nosso local de partida. Foi nosso marco zero!

A primeira etapa, não foi nada fácil. Vento forte contra, sol escaldante e uma severa inclinação na areia, eram fatores a serem superados neste trekking. Além disso, a areia era bastante (,) fofa. (..aliás, para distrair e sacanear os outros, a gente colocava uma vírgula, entre o “bastante” e o “fofa”, sempre que se referia ao estado da trilha…..rs….falta do que fazer….).

Foram 12,5 Km de uma imensidão de areia e mar, boa parte, completamente deserta. Uma verdadeira terapia. Nos primeiros 3 Km, é um falatório só. Depois, um silêncio avassalador (…só se ouve o vento e o mar, imponentes!…). É quando a gente se encontra com a nossa consciência e faz as pazes com tudo aquilo que nos traz felicidade e tranqüilidade. É quando vemos que precisamos de muito, mas muito pouco para sentirmos alegria de viver. É aí que vemos como temos nos violentado, em nosso dia-a-dia, numa corrida de “ratos” maluca, à procura de algo (..nas coisas, no consumo…) que já está em nós….

amigo canino: uma grata surpresa!
amigo canino: uma grata surpresa!
"siri" - sempre vigilante
"siri" - sempre vigilante

Esta primeira etapa de nosso trekking teve um personagem único e inusitado. Quando passávamos em frente à praia das Neves, um cão alegre se aproximou, balançando o rabo. Como nós não o espantamos (…coisa que outros deviam fazer…), ele se juntou ao grupo. Pensei que fosse andar um pouquinho só ao nosso lado e depois voltar para a vila. Engano meu! O bichano nos acompanhou por toda a primeira etapa. Caminhou conosco, mais de 4 horas, até chegarmos na praia de Marobá.

O mais curioso era a sua atividade predileta. Ele avistava ao longe um siri branco de praia (…também conhecido como guruçá…), corria atrás, cercava, latia e tentava pegar com a boca sua “presa”, até que ela conseguisse fugir pro mar. Daí a pouco, fazia tudo de novo, quando enxergava um novo infeliz morador daquelas areias. A gente percebeu que ele não tinha intenção nenhuma de machucar o siri (…embora talvez o fizesse, às vezes…rs…). Era pura diversão. Aquele cachorro tinha personalidade e sabia o que queria. Impressionou a gente, pela sua independência e felicidade. Ficamos amigos e pra não chamar um amigo de “cachorro”, demos a ele um nome bastante sugestivo: “Siri”.

Pousada Baleia Branca: honesta
Pousada: honesta

Chegamos na praia de Marobá, cansados, mas muito contentes com o feito. Ficamos hospedados na Pousada Baleia Branca. Um local super limpo, honesto em tudo e cujos proprietários são gente (de Juiz de Fora (MG)), simples e acolhedora, a Carla e o Sr. “Tchê” (pai) (Pousada Baleia Branca – (28) 3535-4099 – Marobá e (32) 3237-9272 – Juiz de Fora / Diárias com café da manhã custam em torno de R$ 80,00/US$ 43,00).

Em Marobá, ainda de “gruja”, acompanhamos um evento muito interessante: Marobá Acro Brasil: I Etapa do Circuito Brasileiro de Acrobacias de parapente. Parecia um evento internacional, pela quantidade de “gringo” fazendo graça com os parapentes no ar. Só tinha fera. Quem imaginaria que encontraríamos essa atração lá, não e mesmo!? A própósito, a Prefeitura de Presidente Kennedy está de parabéns pelo investimento que tem feito em seu verão. Muito legal e vale a pena conferir.

No dia seguinte, o mais cedo possível (…rs…), partimos para a realização da segunda etapa do desafio. Não tínhamos mais a companhia de “Siri”. Quem sabe ele tenha encontrado novos “amigos” e novos destinos, que satisfizessem àquele seu invejável espírito livre? (…desejamos ao “Siri” boa sorte!…). Apesar disso, consideramos um trecho mais tranqüilo. As baías eram menores, a areia não era mais tão fofa e o trajeto não se apresentava tão inclinado como antes. Também começamos a ver lindas falésias e pedaços de mata de restinga intocável. Foi um espetáculo. Fizemos os 11 Km em 3 horas e meia. Chegamos triunfantes ao Camping do Siri, nosso destino final. Lá, já tínhamos nossas reservas, na pousada, registradas. Foi lá que, há dois dias, havíamos deixado o carro e fomos levados de táxi para o extremo Sul do Estado. Aliás, o motorista foi o Sr. Delci ((28) 9883-0849/3532-4180 – corrida custou R$ 90,00/US$ 48,00). Sujeito prestativo e falante. Tenho certeza de que terá o maior prazer em levar outros andarilhos para a saída na trilha, que descobrimos. No Espírito Santo, certamente, é o ponto mais ao sul, pertinho do mangue que margeia o rio Itabapoana.

Passamos à noite de sábado rindo à toa e, sempre, regada à água de coco, vinho e cerveja (…muito chato….rs…). No domingo, ficamos de molho o dia todo, aproveitando a ótima praia do siri, de frente ao Camping. O corpo doía, mas a alma estava radiante! Lembrei da frase célebre muito usada por maratonistas: pain is temporary, proud is forever (a dor é temporária, o orgulho é para sempre).

Eu já sabia, mas para os que se aventuraram pela primeira vez, foi uma constatação de que fazer um trekking é algo extremamente gratificante. Lava a alma e nos leva a diversas reflexões. Desde a nossa insignificância diante da grandeza da natureza ao valor das pequenas coisas, dos gestos mais simples, nada passa despercebido, após horas caminhando numa praia deserta. É comum a gente perceber que costuma complicar as coisas. A nítida impressão que temos é que a vida podia ser mais fácil. Enfim, trekking é tão bom que não podemos passar muito tempo sem uma nova programação. Breve, faremos novas caminhadas e, quem sabe, conseguimos cobrir toda a costa do Espírito Santo em menos tempo do que se possa imaginar, não é mesmo!? Tenho certeza: companhia é o que não vai faltar…rs….

Costumo dizer que você nunca termina um Trekking, exatamente como começou (…não me refiro aos naturais calos e bolhas no pé….). Ao final, os laços de amizade, entre as pessoas que participam, se reforçam e nossa auto-estima se reconstitui. A gente vê que ali, na trilha, todo mundo parece igual diante do mesmo desafio assim como sempre deveria ser, fora dali. Afinal, de fato, somos todos muito parecidos em nossos anseios, medos, desafios e desejos. Foi quando lembrei do início deste post, do recado daquele “bebum” de Marobá e, pensei:e não é que o ébrio tem razão?!….rs….

É desse jeito!!!…..

HSF